por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 20.11.2021
Ouvimos esta semana o Primeiro-ministro constatar algo que, sendo evidente, nem sempre é expresso com tanta frontalidade:
“O perfil económico não se transforma com varinhas mágicas, os salários não sobem por varinha mágica. Os salários sobem se houver mais emprego qualificado. E há mais emprego qualificado se as empresas tiverem a capacidade de atrair para Portugal a produção de serviços e bens com maior valor acrescentado, aumentando a competitividade”.
Não poderia estar mais de acordo.
Só aumentando o valor acrescentado dos bens e serviços que produzimos é que os rendimentos, nomeadamente os rendimentos salariais, poderão crescer de forma sustentável sem prejudicar a competitividade das empresas e o seu futuro. Por outras palavras, a única forma de conciliar competitividade e aumentos salariais é conseguir que a produtividade cresça.
Para isso, precisamos de mais investimento, indispensável à incorporação de inovação tecnológica nos produtos e nos processos. O peso do investimento no PIB está ainda longe de ter recuperado para os seus níveis históricos, sendo o quarto mais baixo da União Europeia. Se queremos, de facto, transformar o perfil económico de Portugal, então temos de nos tornar um país mais atrativo para o investimento, nacional e estrangeiro.
Precisamos também de mais emprego qualificado. As empresas sabem que são as pessoas, com o seu conhecimento e competências, com o seu talento, o seu principal fator de diferenciação e de sucesso. Ao contrário do que muitos teimam em apregoar, os salários não são entendidos pelas empresas unicamente como custos, mas também como um investimento, na medida que são instrumento para atrair e manter trabalhadores mais qualificados e competentes. Corremos o risco da falta de recursos humanos qualificados se tornar a principal barreira à inovação, pelo que é fundamental apostar na qualificação e requalificação da força de trabalho e na sua permanente adequação às necessidades das empresas.
Acrescentaria um terceiro fator para alcançar níveis mais elevados de produtividade: promover um ambiente de negócios impulsionador da inovação e que permita às empresas concentrarem os seus recursos na criação de valor. Isso passa por travar o contínuo surgimento de novas obrigações legais que implicam mais custos para as empresas e libertá-las dos custos de contexto que constituem ainda um evidente fator de perda de competitividade.
Mas não basta constatar estas evidências. É preciso agir consequentemente.
Espero que o novo ciclo que se iniciará dentro de poucos meses torne possível o envolvimento de agentes políticos e parceiros sociais em compromissos efetivos e ambiciosos que deem lugar a uma nova geração de políticas públicas consequentes com esta visão, promovendo condições para que as empresas ganhem competitividade, produzam mais riqueza, gerem mais e melhores empregos e distribuam salários mais elevados.