por Manuel Tarré, Presidente do Conselho Estratégico para a Economia do Mar da CIP
Publicado na Revista Indústria nº 127, 1º trimestre 2021

O Conselho Estratégico para a Economia do Mar da CIP, a que presido, está convicto que o mar e as suas indústrias têm a capacidade de alavancarem a recuperação económica do país. Sou também presidente da ALIF e empresário da indústria alimentar do mar e sei, por experiência própria, como as exportações deste setor aumentaram significativamente ao longo da última década. Uma das vantagens adicionais da economia do mar é a de englobar muitas outras indústrias para além da fileira alimentar, como a construção naval, portos, marinha mercante, defesa, cabos submarinos, robótica, biotecnologia e turismo, que são também atividades económicas potenciadoras da necessária retoma económica do país.

Fui sensível ao pedido efetuado pelo Presidente da Direção da CIP, António Saraiva, para liderar o Conselho Estratégico para a Economia do Mar pois a consciência dos extremos desafios, que a economia nacional enfrenta, não me são indiferentes e a resposta que a economia do mar pode dar é fundamental para o futuro socioeconómico e ambiental do país.

Num mundo em profunda transformação, com múltiplos desafios em todos os setores, urge uma abordagem pragmática que se foque em relevantes desafios para a valorização do mar, e se faça ouvir junto dos decisores nacionais e internacionais. Neste contexto, o primeiro passo do Conselho Estratégico para a Economia do Mar foi auscultar os seus Membros na tentativa de selecionar um grupo focado de temas/desafios como a base da intervenção deste Conselho no apoio à Direção da CIP. A referida auscultação apurou três temas que são grandes desafios: i) atingir a sustentabilidade da atividade humana no mar com o apoio da revolução tecnológica em curso; ii) valorizar os agentes ligados ao mar (investidores, empresários, trabalhadores marítimos, cientistas…) e iii) fiscalidade promotora de investimento e desenvolvimento sustentável.

O futuro sustentável do mar depende também do sucesso da revolução tecnológica em curso. A revolução tecnológica azul deve ser orientada para o desenvolvimento das empresas, para a melhoria das condições de trabalho e para a preservação dos oceanos. Neste contexto, as decisões de investimento devem estar alinhadas com os objetivos de economia circular do “Green Deal”. A título de exemplo, a revolução tecnológica pode contribuir em muito na construção e adaptação de navios que ajudem no processo de descarbonização. Adicionalmente, a acelerada transformação da internet e comunicação digital abre múltiplas oportunidades à Economia do Mar.

Representando Portugal mais de metade da área acumulada das Zonas Económicas Exclusivas Marítimas localizadas na Europa, de países pertencentes à União Europeia, ninguém, em Portugal e na Europa, compreenderá se o mar não tiver o devido destaque no processo de recuperação da economia nacional e europeia.