Entrevista a Ricardo Reis, economista, professor e investigador na London School of Economics
[publicada originalmente na Revista Indústria nº 127]

É um dos mais conceituados economistas portugueses e acaba de ser distinguido pela Associação Económica Europeia, com o prémio bianual Yrjö Jahnsson, pelo “impacto profundo” do seu trabalho na macroeconomia. Em entrevista à Revista Indústria, Ricardo Reis não se mostra particularmente positivo quanto à recuperação da economia portuguesa em 2021 e critica o Governo pela falta de investimento público nos últimos anos. O professor e investigador na London School of Economics diz estarmos perante uma oportunidade de ouro para quebrar os fatores estruturais da falta de crescimento económico dos últimos 20 anos, onde se incluem a proteção de grupos de interesses; a falta de tomada de riscos por parte da banca na concessão de crédito às empresas; e a falta de celeridade da justiça, nomeadamente nos processos de insolvência, cobranças e limpezas de dívida.

 

No terceiro trimestre do ano passado, a recuperação da economia portuguesa surpreendeu, pela positiva, logo após o levantamento das restrições mais severas à atividade económica. Podemos esperar semelhante reação quando o atual confinamento puder ser aliviado?

A resposta é um claríssimo sim. Mas não espero que, quer a quebra do primeiro trimestre de 2021, quer a recuperação no segundo trimestre, sejam tão acentuadas como foram no segundo e terceiro trimestres de 2020. Por um lado, já nos adaptámos – sobretudo os empresários – e, com isso, ganhámos a capacidade de, simplesmente, não fechar tudo mas continuar a produzir e a trabalhar a partir de casa. Estas transições tornaram-se mais oleadas, ganhámos experiência em fazê-las. Por outro lado, temos as cicatrizes que vêm deste período de confinamento – e que se estendem há já 12 meses – e que se vão acumulando. Com muito apoio público é certo, com muito esforço dos empresários e com muita capacidade de resiliência, mas que tem sofrido a natural erosão do tempo, com o acumular dos choques de confinamento, com a extensão desta crise. Diria, portanto, que não será de admirar que, gradualmente em 2021, e mesmo em 2022, tenhamos mais e mais empresas a chegarem a um ponto de colapso e a fecharem. E isso vai, com certeza, retrair a atividade económica, no cômputo geral de 2021, para além destes efeitos de confinamento imediatos que referi.

 

Em 2020, quando tivemos a recuperação da atividade económica, os grandes motores foram a procura interna e a procura externa líquida. É de esperar que se mantenham?

Sim. Espero alguma recuperação do turismo no Verão e, portanto, que afete o terceiro trimestre de 2021, mas não estou especialmente otimista que assim seja.

 

Temos previsões bastante díspares para o cômputo de 2021. Entre os 1,7% previstos pela OCDE e os 6,5% do FMI. Qual é a sua perspetiva?

Essas previsões são do final de 2020. Desde então muita coisa mudou. Tendo em conta a combinação do quão intensos foram os efeitos desta terceira vaga – passámos o primeiro trimestre confinados –  e o tempo que está a demorar o processo de vacinação em Portugal, assim como na Europa, eu estaria consideravelmente mais pessimista do que o FMI. Mais próximo das previsões da OCDE.  Acredito que teremos alguma recuperação, 2021 nunca será tão mau como 2020. Mas, infelizmente, uma recuperação não muito robusta, sobretudo porque estou pessimista acerca do Verão. Se, de facto, Portugal conseguisse chegar a maio/junho com uma grande fração da população vacinada; se a nível internacional assistíssemos a uma maior abertura das fronteiras, pelo menos na União Europeia, então diria que, facilmente poderíamos chegar aos 4%. Mas como estou pessimista acerca disso aponto mais para os 2%, talvez 3%.

 

O mercado do trabalho tem estado a aguentar com relativa resiliência o impacto da contração da atividade económica. Os números do desemprego têm ficado aquém da generalidade das previsões. O que antevê para 2021?

Os dados do emprego não são uma medida fiável para o que se está a passar, neste momento, na economia. Vão refletir a realidade quando as medidas públicas deixarem de achatar o indicador de forma tão intensa, impedindo-o de revelar o que se passa por baixo. Igualmente, talvez ainda mais extremo do que os dados do emprego, é o ritmo de falências. Não tenho dados para Portugal. Mas normalmente as falências crescem 5% a 10% numa recessão – dados para os EUA, Alemanha e Inglaterra. Na recessão de 2008, que foi uma recessão profunda, cresceram 20%. As insolvências em 2020 caíram 25% nestes países. Tivemos o ano de maior sucesso da atividade económica? Obviamente que não. Na minha opinião, os dados do PIB são aqueles que, neste momento, são verdadeiramente fiáveis. Porque as falências e o desemprego vão-se ver em 2021 e em 2022, conforme estes apoios, muito custosos para o erário público, tiverem de ser removidos e a economia tiver que refletir e ajustar-se a essa nova realidade.

 

Em termos de apoios, um estudo recente do BCE concluiu que o estímulo orçamental de Portugal foi o terceiro mais baixo da zona euro, inferior a 3% do PIB, enquanto a média europeia foi de 4% do PIB.  Foi o suficiente? Portugal tinha condições para apoiar a economia de forma mais determinada?

Claramente não foi suficiente. Podia ter-se dado mais apoio às famílias e às empresas que efetivamente precisaram, como também – como estamos a ver agora nesta terceira vaga – se podia ter investido mais na saúde, na educação, ou simplesmente na eficiência do programa de vacinação. Acho que é incontestável que se podia ter gasto mais dinheiro, se fosse bem gasto. Para gastar mal, de facto, é preferível que não. Mas do ponto de vista da sustentabilidade das finanças públicas, penso que não teria vindo mal ao mundo gastarmos mais 1% ou 2% do PIB, ainda que o fardo da dívida pública nunca nos permitisse ter o tipo de apoios que a Alemanha teve. Agora, para se gastar depressa e bem também é preciso uma agilidade do setor público que não sei se temos em Portugal. Depois de cinco anos a cortar e a cativar no investimento público, era difícil reajustar a máquina para o oposto. E não quero com isto desculpar de forma alguma o Governo. Pelo contrário, quero culpá-lo. Porque, de facto, depois de cinco anos sem investir – e, no total, já há quase 10 anos – claramente houve dificuldades em fazê-lo.

 

Há cerca de um ano previa que será necessária uma grande contenção orçamental durante cinco a 10 anos. Mantém essa previsão?

Sim. Temos uma dívida pública alta e, para a pagar, estamos perante 10 anos de contenção orçamental. O que não significa que, em anos excecionais, como 2020 e 2021, não possamos puxar no sentido oposto, de forma a acudir às necessidades urgentíssimas. É por isso que são 10 anos e não quatro, de forma a podermos gerir melhor essas necessidades no tempo.

 

Essa contenção orçamental, durante esse período alargado de tempo, poderá vir a sufocar a recuperação?

Depende. Tão importante quanto o número do défice, é como é que ele é alcançado. Se, durante dez anos, continuarmos a ter: 1) zero de investimento público ou investimento público altamente distorcido. Ou seja, investimento que é planeado mas não executado de formas um pouco arbitrárias, como é o caso das cativações, cujos critérios de aplicação não são muito claros; investimento público que não seja em resposta aos acontecimentos, sem grande planeamento, e nem grandes perspetivas, como tivemos nos últimos anos. 2) a eterna ameaça de subida de impostos, sempre que há um mínimo de desvio orçamental. Aí, com certeza, será muito difícil. No entanto, espero que isto não se prolongue, mas antes, que tenhamos essa consolidação orçamental através da responsabilidade nas despesas, da estabilidade fiscal e de um investimento público robusto.

 

Qual a avaliação que faz do Plano de Recuperação e Resiliência em termos de planeamento das nossas prioridades de investimento?

É um bom contributo porque, pelo menos, compromete o país em relação a alguns eixos de investimento público. Infelizmente, em Portugal, os compromissos com Bruxelas são sempre tomados mais a sério do que os compromissos com o Parlamento e com os eleitores. Os compromissos de investimento público que surgem nos programas de governo, em períodos de eleições, é raro depois serem cumpridos. O que é estranho mas se tornou perfeitamente normal em Portugal. Os compromissos com Bruxelas, felizmente, são dos poucos que parecem ser respeitados. Nesse sentido, ainda bem que assim é para trazer alguma estabilidade. Pelo menos nestes, sabemos que não serão cativados, cortados, não serão prometidos para depois nunca serem executados. Agora, se são aqueles os melhores investimentos é difícil prever. Existe um grande fascínio pelos grandes projetos, que custam muito dinheiro e que envolvem escolher alguns setores, quando não conseguimos prever o que será melhor daqui a quatro ou cinco anos. Gostava de ter uma estrutura um pouco mais ágil.

 

Como se posiciona entre os que argumentam que deve haver orientações de política económica que definam quais as atividades estratégicas para o futuro, para aí concentrar os recursos disponíveis, e os que defendem que deve ser o mercado a conduzir a afetação desses mesmos recursos?

A resposta a essa questão tem sempre que ver com a escala de que estamos a falar. Se na esquina de uma rua abre um restaurante ou um cabeleireiro, é óbvio que tem de ser o mercado a mandar. Se falarmos ao nível mais macro possível, como por exemplo, da rede de energia de um país, da transição climática ou da própria digitalização de toda a economia, aí o investimento público nas infraestruturas é crucial. Entre um e outro, existem imensos gradientes.

 

 

Têm existido muitas vozes críticas em relação à distribuição dos fundos do PRR, entre o público e o privado. Que avaliação faz desta distribuição?

Acho que não é sequer uma escolha, é uma consequência de escolhas passadas. Depois de quase 10 anos sem investimento – os últimos cinco de forma voluntária – de facto, não é difícil ver muitos sítios onde é preciso muito investimento público. Mas parece-me existirem alguns exageros em escolhas demasiado micro. Portanto, em vários projetos, gostaria de ter visto mais fundos para o mercado. Colocando de uma forma ligeiramente diferente: em vez de público e privado, preferia que se colocasse a questão em termos de rigidez versus flexibilidade. Quantos desses programas é que são flexíveis no sentido de, daqui a três anos, poderem ser alterados em termos da sua orientação e do seu foco, tendo em conta as realidades da economia portuguesa nessa altura? Hoje, não faltam previsões sobre o que vai ser o mundo pós-pandemia: onde é que as pessoas vão viver, como vão trabalhar, em termos de consumo energético, de apetência pelo turismo. Gostava que o plano fosse flexível de forma a permitir esses ajustes. Os mercados são mais flexíveis do que o público, e, portanto, um desejo de flexibilidade, normalmente, leva a um maior pendor para o privado em vez do público, embora isso não seja uma regra universal.

 

Já referiu que a crise pode ser o pretexto para implementar medidas estruturais. Que medidas estruturais seriam essenciais para a economia portuguesa?

Num contexto em que vai ser necessária uma reafetação de recursos dentro da economia, em que vai ser preciso permitir algumas empresas fecharem e outras abrirem no seu lugar – muitas vezes com o mesmo trabalhador e o mesmo empresário -, em que vai ser preciso alguns setores minguarem e outros expandirem-se, é a altura de tentar flexibilizar e agilizar a economia nesse sentido. O grande drama da nossa economia no século XXI – que tem levado ao pior desempenho do crescimento económico, nos últimos 21 anos, em mais de um século – é a nossa incapacidade de afetar recursos aos setores mais produtivos e às empresas mais ganhadoras, em vez da proteção de rendas e de grupos de interesse. Como tal, considerando que terá de existir uma enorme reafetação de recursos como fruto da pandemia, acho que era uma grande oportunidade para deixarmos de ter intervenções públicas a protegerem grupos de interesses; para termos bancos a darem crédito às empresas, tomando riscos; para termos uma justiça que permita insolvências, cobranças e limpezas de dívida rápidas; e uma maior capacidade de reafetação de pessoas para empregos nos quais, nem algumas empresas abusam dos trabalhadores usando o seu poder de mercado por falta de concorrência, nem alguns trabalhadores abusam das empresas, ficando agarrados a cargos nos quais são completamente improdutivos, protegidos por diferentes leis. Ou seja, olhando para os fatores estruturais da falta de crescimento económico dos últimos 20 anos, concluímos que serão aqueles que vão estar sob enorme stress no próximo ano e meio. Espero que esse stress leve a que quebrem e sejam substituídos por uma economia mais dinâmica e mais flexível.

 

Que oportunidades se poderão abrir, neste contexto de pós-pandemia, para as empresas portuguesas?

Imensas oportunidades. Porque existirão com certeza mudanças nos padrões de consumo. Além disso, existem mercados à procura de novos fornecedores. Este episódio da pandemia mostrou-nos que podemos trabalhar, transacionar e fazer negócios mais à distância. Portanto, o lado periférico da nossa geografia irá pesar menos do que possivelmente pesou nas últimas décadas ou mesmo séculos. Cada vez menos existe também a necessidade de investimentos em capital físico e mais em capital intangível, que exige menos investimentos avultados. Numa economia como a que tínhamos nos anos 60, em que para se ser competitivo precisávamos de investimentos fortíssimos na indústria, Portugal, com o seu défice de capital nunca conseguiu competir. Hoje em dia, e cada vez mais na economia pós pandemia, não são necessárias fábricas gigantes, que custam milhões, para ser altamente competitivo e rentável. E aqui todas as tecnologias alternativas são apenas a ponta do iceberg. Sinto-me encorajado pelo facto de, uma das poucas boas heranças da crise de 2010-2012, foi um enorme salto das exportações portuguesas e a integração de várias empresas em mercados internacionais altamente competitivos. Passámos os últimos cinco/ seis anos a aprender e a ganhar quotas de mercado. Espero que tenhamos, sobretudo, aprendido a grande lição que é procurar ser ágil nos mercados, procurar onde há oportunidades. E, sendo assim, não vão faltar oportunidades nos próximos anos tendo em conta o reajustamento da atividade económica.

 

Muito se tem alertado para os riscos que poderão surgir com o fim das moratórias de crédito. Partilha destes receios?

Num mundo ideal, teríamos na verdade muito mais insolvências do que aquelas que vamos ter. Teríamos um processo com muitas insolvências, que permitissem às empresas limpar os seus balanços e recomeçar as suas atividades produtivas, rentáveis, sem o fardo da dívida destes dois anos. Ora, sabendo que esse processo de insolvências não existe, sabendo que as relações com os bancos são sempre difíceis, lentas, custosas, com perdas para os dois lados, é por isso que temos receio das insolvências e sabemos dos custos, dos prejuízos e da destruição de riqueza que elas causam. Por isso mesmo o grande desafio no próximo ano, não é tanto o receio da reorganização da atividade produtiva, que vai ter de acontecer, mas antes da eficiência da nossa economia em fazer esses ajustes. Em limpar a dívida, daquelas que herdaram essa dívida mas em que ela não indica de todo o que é a rentabilidade da empresa olhando para o futuro. Mas também, por outro lado, a capacidade de libertar recursos de setores que, de facto, não vão ser rentáveis no futuro, para outros setores que serão mais rentáveis. Novamente, é mais da falta de eficiência da nossa economia, do nosso sistema jurídico, do nosso sistema financeiro, em permitir esta realocação de recursos, que eu receio que será o grande teste da nossa economia, este ano e no próximo.

 

Mas isso traria custos para o setor da banca. Tivemos a experiência recente de termos uma grave crise na banca. Podemos reviver esses tempos?

Em vez de dar um sim ou um não a essa pergunta, deixe-me oferecer duas reflexões. Primeiro, pareceria estranho de facto que, tendo em conta o contexto económico, os bancos não sofressem perdas. Afinal, o setor financeiro, supostamente, existe para financiar a economia. No entanto, se olharmos para os testes de stress à banca, portuguesa e europeia, a verdade é que não se adivinha uma crise financeira. E, pelo que observo, não é que esses testes estejam completamente desfasadas ou sejam incompetentes. Como é que conciliamos essas duas observações? Conciliamos porque se olharmos para muitos bancos europeus o que descobrimos é que, em primeiro lugar, a sua carteira depende sobretudo da habitação e da construção e, em segundo lugar, que as novas regulações que saíram da crise financeira, criaram nos bancos uma grande almofada para responder a crises. Daí a pouca rentabilidade dos bancos nos últimos 10 anos e, ao mesmo tempo, contribuíram também para que os bancos tomassem muito poucos riscos nos empréstimos às empresas. Ou seja, se os preços das casas não caírem e o setor da construção se estiver bem – e relembro que o setor da construção no último ano está em grande expansão –parece que, de facto, os bancos vão estar bem. Se os preços das casas baixarem, aí muda completamente a conversa em relação à saúde dos bancos. Agora, conclusões daqui: 1) a carteira de crédito dos bancos está hoje em dia muito devotada à construção e ao imobiliário; 2) não deixa de ser uma boa altura para perguntar se toda aquela regulação financeira, que tantos aplaudiram, durante mais de uma década, não implicou, como descobrimos agora, que neste momento os bancos estão divorciados da atividade das empresas. Os bancos são altamente aversos aos riscos. Não sei se é este o sistema financeiro ideal para uma economia. Com certeza que não é para as empresas.

 

Os líderes europeus começam a discutir esta Primavera quando e como iremos retomar as regras orçamentais europeias. Tem receio de um  “regresso à normalidade” demasiado prematuro?

Não receio um regresso à normalidade no sentido em que estou convicto, diria mesmo seguro, que as regras vão ser modificadas nos próximos 12 meses. As regras antigas, claramente, não são apropriadas para o momento atual. Foram altamente postas em esforço já na última década. Há neste momento, parece-me, uma convicção nos órgãos europeus para se reverem as regras. Como é que isto vai funcionar na arena política? Como sabemos as discussões na arena política da Europa são sempre algo imprevisíveis e têm um enorme enviesamento para manter o status quo, acrescentando mais uns retalhos à manta de retalhos que já existe em vez de reescrever as regras. Não sou analista político para prever se vai ser diferente nessa altura. Mas parece-me que, com certeza, vão ser mudadas. Tendo em conta que Portugal será certamente dos países mais afetados, seria bom que a Presidência portuguesa estivesse neste momento a fixar essa agenda. Não o tenho visto.

 

E quais poderão ser as orientações dessas novas regras?

Primeiro, a regra dos 60% da dívida pública está completamente ultrapassada. Ter uma regra que fala em 60% da dívida pública quando não há nenhum país da Europa que, no final de 2021, tenha a dívida pública em 60% do PIB… Mas, para além disso, todos os cálculos para o défice e as negociações à décima…. Penso que o melhor exemplo é o enorme vício que temos tido na discussão de finanças públicas em Portugal – e ao qual todos os portugueses já se habituaram e nem sequer questionam – que é, quando falamos da TAP, do Novo Banco ou dos apoios às empresas, surge uma discussão quase surreal: isto entra ou não nas contas para o défice? Os portugueses perdem o dinheiro da mesma forma. Mas gastamos menos tempo a discutir se é boa ideia investir os nossos recursos aqui ou ali, do que a pensar se em Bruxelas entra na célula C2 ou na célula D4. É uma distorção enorme de como se faz política em Portugal. A quantidade de vezes em que, nos últimos anos, gastámos centenas de milhões dos portugueses em decisões importantíssimas para o nosso futuro, para o encargo fiscal que todos suportamos, e as distorcemos de formas inacreditáveis para entrarem numa célula em vez de outra numa folha de excel da Comissão Europeia… É claramente algo que não devia acontecer e onde espero que venha a existir maior sanidade económica. Nenhum empresário governa a sua empresa desta forma: a pensar o que é que conta para aqui ou para ali, em vez de pensar simplesmente se é rentável ou não.