A CIP participou no Fórum Global sobre Emprego Jovem 2019 (doravante Fórum), promovido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre os dias 1 e 3 de agosto, em Abuja, Nigéria. (fotos do Fórum disponíveis aqui).

A representação técnica da Confederação ficou a cargo de Sara Rego, que participou no supramencionado Fórum durante os três dias.

O Fórum contou com a participação de várias personalidades de relevo no âmbito da OIT, tais como Guy Ryder, Diretor-Geral da OIT, Cynthia Samuel-Olonjuwon, Diretora Regional da OIT para a Africa, e Dennis Zulu, Diretor do Escritório da OIT-Abuja (Escritório da OIT para a Nigéria, Gana, Libéria e Serra Leoa).

Estiveram também presentes membros do Governo Nigeriano, que acolheu e patrocinou o Fórum, nomeadamente, Yemi Osinbajo, Vice-Presidente da República Federal da Nigéria, Boss Mustapha, Secretário do Governo da Federação, e William Alo, Secretário Permanente do Ministério Federal do Trabalho e do Emprego.

 

No primeiro dia, a abertura do Fórum ficou a cargo de William Alo, Boss Mustapha, Dennis Zulu e do próprio Diretor-Geral da OIT, Guy Ryder, que foi o primeiro Diretor-Geral desta Organização a visitar a Nigéria.

Guy Ryder afirmou que houve boas razões para a realização o Fórum sobre Emprego Jovem naquele país: a Nigéria é, atualmente, a maior economia de África, em expansão, e o país africano mais populoso e com maior número de jovens, estimando-se que, em 2050, seja o terceiro país com mais população do mundo, apenas precedido pela China e pela Índia.

Relativamente ao Centenário da OIT, o Diretor-Geral da Organização referiu ter tomado a decisão de não olhar para trás, mas, ao invés, para o futuro. Daí a Iniciativa sobre o Futuro do Trabalho, onde se incluem, naturalmente, os jovens que constituirão a geração ativa dos próximos tempos.

Atendendo ao facto de que se estima que existem, atualmente, no Mundo, 255 milhões de NEETs (jovens que nem estudam nem trabalham) e que, em África, a informalidade do trabalho chega a atingir os 90%, afigura-se essencial dar voz aos jovens para que estes possam dar a conhecer as suas perspetivas sobre o futuro do trabalho e, sobretudo, as expectativas relativamente ao que esse mesmo futuro lhes reserva, não esquecendo que estes jovens assumem e assumirão um papel preponderante neste contexto.

Guy Ryder afirmou, ainda, que o empreendedorismo jovem e o trabalho por conta própria constituem vertentes de relevo no âmbito do mercado de trabalho, as quais devem, por isso, ser promovidas.

Terminou, referindo que todos devem assumir um forte compromisso em torno desta realidade: assegurar que o trabalho do futuro não deixa ninguém para trás e que a principal prioridade deverá ser a garantia do trabalho digno para todos, incluindo os jovens.

 

No que respeita às atividades realizadas durante o Fórum, destacam-se as seguintes:

Painel “Fishbowl” com o tema – “Presente e futuro com trabalho digno para os jovens”

O Painel em referência tinha como objeto de discussão a Resolução da OIT, aprovada na Conferência Internacional do Trabalho de 2012, denominada “The youth employment crisis: A call for action”.

O objetivo era comparar o panorama do emprego jovem e a forma de abordar os desafios que se lhe colocam, antes e depois da referida “call for action”, tendo os participantes na discussão ressaltado os principais efeitos resultantes da “call”, e sublinhado os principais desafios o emprego dos jovens enfrenta.

Partindo das suas perspetivas sobre as matérias, os oradores debateram temas como os efeitos e impactos das alterações climáticas, a digitalização, a qualidade da educação e a adaptação da economia aos denominados “empregos verdes”.

Em suma, os oradores referiram ser importante não só adaptar a economia atual às novas exigências colocadas por força das alterações climáticas, como também promover novas áreas, que, no contexto do futuro, ganham relevância. É o caso da economia verde (que visa reduzir os riscos ambientais e a escassez ecológica), azul (ligada ao mar e aos recursos marinhos), laranja (a economia da criatividade) e roxa (a economia dos cuidados).

Outro ponto aludido foi a questão da digitalização do trabalho e a substituição do capital humano por máquinas, robots e sistemas computorizados.

Neste aspeto frisaram-se, em particular, dois aspetos: por um lado, a problemática das plataformas digitais, referindo-se que é um tema que tem sido muito debatido ultimamente, mas para o qual não existem ainda soluções concretas e planos de ação; e, por outro, a necessidade de a “call for action” procurar garantir que, no futuro, as tarefas disponíveis sejam distribuídas, como forma de encarar a diminuição dos postos de trabalho.

Por fim, a necessidade de uma forte aposta na qualidade da educação e formação, baseada no designado “skills mismatch”, que procura assegurar a correspondência entre os conteúdos formativos e as necessidades do mercado de trabalho, poderá constituir chave-mestra do futuro do trabalho.

 

Painel “Fireside chat” com o tema – “Estimular o Emprego Jovem através de uma transformação económica estrutural”

Neste segundo Painel, já no segundo dia do Fórum, os oradores refletiram sobre o papel de uma transformação estrutural na economia para a promoção de oportunidades para os jovens no âmbito da economia formal e na facilitação de uma transição justa e inclusiva nos contextos rurais e urbanos.

Como já se referiu, a realidade da economia africana passa por 90% de informalidade, o que é mormente visível ao nível do emprego jovem.

Nessa medida, as reflexões deste Painel foram no sentido de reconhecer a importância de se aproveitar as oportunidades criadas pela digitalização e Indústria 4.0, com vista a impulsionar a transformação estrutural da composição da economia, privilegiando, nesse processo, a procura de mão-de-obra jovem.

Os Painéis dos dois dias foram bastante dinâmicos e interativos, uma vez que se permitiu a vários dos participantes da audiência subirem ao palco para comentarem e/ou colocarem questões aos oradores ou, ainda, em alternativa, enviarem perguntas ou feedbacks através de dispositivo móvel.

 

Feira de partilha “Soluções de emprego para jovens”

A atividade em referência assumiu a forma de um mercado em que vários jovens tinham a sua “banca de negócio”, tendo os participantes de percorrer os vários stands, com o objetivo de escolherem o “melhor negócio” ou a “melhor ideia”.

Cada uma das bancas representava uma ideia ou negócio dinamizado por jovens, como exemplo, uma start-up que criou uma app para ajudar jovens refugiados ou migrantes nas lides e serviços básicos, uma empresa de produção de café toda constituída por jovens, uma associação cujo objeto social é formar jovens para o empreendedorismo, etc.

 

O roadmap para 2030

O documento final do Fórum, denominado “roadmap to 2030”, foi elaborado por uma equipa constituída por representantes dos governos, dos empregadores e trabalhadores, da sociedade civil e dos media.

O resultado foi um roteiro composto por várias reflexões, recomendações, ideias e perspetivas debatidas durante os dias de decurso do Fórum. O roteiro fornece, assim, orientações para um novo plano de acompanhamento da “call for action”, num horizonte que abrange 2020-2030.

O principal objetivo do referido roadmap, que foi apresentado no último dia do Fórum, é o de sensibilizar as diversas organizações e os decisores políticos para os problemas que os jovens enfrentam tanto no atual como no futuro contexto do mundo do trabalho, procurando que estes atendam às suas visões e recomendações e acautelem as suas preocupações.

Em conclusão, o Fórum foi bastante interativo, na medida em que permitiu a todos os participantes intervirem em todos momentos, tanto no contexto das intervenções formais e dos painéis, como aquando das várias atividades de grupo para promover a discussão e reflexão destes temas, que se realizaram ao longo dos três dias.