Numa recente entrevista, a primeira questão que me colocaram foi: “o que mais preocupa os industriais portugueses, neste momento?” Não hesitei em responder que, no centro das nossas preocupações, está a dinâmica da produtividade.

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 07.07.2018

Numa recente entrevista, a primeira questão que me colocaram foi: “o que mais preocupa os industriais portugueses, neste momento?”

Não hesitei em responder que, no centro das nossas preocupações, está a dinâmica da produtividade.

Uma dinâmica muito fraca, desde o início do século, e que, na atual fase de recuperação económica, passou mesmo a valores negativos.

Em 2017, a queda da produtividade foi de 0,6%, queda que se aprofundou ao longo do ano, mantendo-se esta tendência inquietante, com uma redução de 1%, no primeiro trimestre de 2018.

São diversas as dimensões deste problema:

Em primeiro lugar, a dimensão do emprego. Se é verdade que tem sido surpreendente a capacidade de criação de emprego que as empresas têm revelado, refletindo-se na reabsorção do desemprego, não podemos ter ilusões que, sem ganhos de produtividade, esta capacidade possa permanecer e o emprego continue a crescer.

Além disso, como já tive oportunidade de afirmar neste espaço, pensar que a passagem de um modelo de salários baixos para um modelo de salários altos se faz, como por milagre, sem ganhos de produtividade, é não entender as regras básicas do funcionamento da economia. A única forma de conciliar competitividade e aumentos salariais é conseguir que a produtividade cresça.

E esta constatação leva-nos a outra dimensão do problema: o desempenho do setor exportador.

Não sendo suportados pela produtividade, aumentos de custos penalizam inevitavelmente a competitividade externa da economia, com impactos negativos nas exportações.

De facto, os indicadores de competitividade-custo estão a deteriorar-se, num movimento ininterrupto desde o início de 2016. É certo, mesmo neste contexto, têm ocorrido ganhos de quotas de mercado e que as exportações continuam a aumentar a bom ritmo (embora já com algum abrandamento). Mas pergunto-me até que ponto conseguirão as empresas continuar a contrariar o impacto desta tendência desfavorável em termos de competitividade-custo.

Em resumo, a produtividade é condição essencial para que as empresas continuem a criar mais emprego, para que possam suportar aumentos salariais e para que as exportações continuem a ser, como até agora, o principal motor da recuperação.

À medida que a componente cíclica da recuperação da economia se desvanece, terá de dar lugar a uma componente estrutural mais sólida, sustentada em ganhos de produtividade.

Para vencer este desafio, a prioridade das políticas públicas deve ser posta na ultrapassagem dos fatores que estão na origem do fraco desempenho da produtividade: ambiente de negócios pouco favorável ao investimento, carga fiscal excessiva, dificuldades de financiamento, e escassez de recursos humanos qualificados.