por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 02.03.2024

Houve quem tenha achado piada ao que aconteceu esta semana a Luís Montenegro. Houve quem desvalorizasse o acontecimento, inserindo-o nos vários episódios idênticos que têm ocorrido nos últimos anos – em Portugal e fora. Eu não penso assim, não penso que tenha qualquer piada, bem pelo contrário, fico muito preocupado quando vejo que há um grupo de pessoas (jovens) que não encontram outra forma de manifestar e defender as suas opiniões a não ser através de um ato que implica um certo grau de violência. Tinta verde, azul ou amarela, o que for; numa pessoa, num quadro ou numa parede – em todos os casos estamos a falar de uma agressão e de uma ação intolerável e antidemocrática que nos atinge e prejudica a todos. Nestas eleições, já aconteceu duas vezes: no debate na RTP com todos os candidatos e agora com o presidente do PSD.

O que é que isto nos diz? Diz que precisamos de conciliar – ou reconciliar – a Ecologia com a Economia. É fundamental definirmos e acordarmos juntos um plano estratégico para os próximos anos; julgo até que devemos começar por nos pôr de acordo quanto aos objetivos da legislatura que arrancará em breve. Estamos numa encruzilhada que não se resolverá através de atos disparatados e radicais. Queremos assumir uma ecologia que pune, que mobiliza, uns contra os outros, pessoas, associações, empresas e países? Ou queremos uma Ecologia que nos protege, que descarboniza, que despolui e que regenera? Uma Ecologia que protege a nossa saúde, o bem-estar e o poder de compra, a autonomia estratégica e a atratividade dos diferentes territórios, mas que também não esquece a competitividade das indústrias e das nações.

É fundamental que saibamos encontrar soluções para ajudar as pessoas, as diversas comunidades e as empresas a escolher este caminho. Devemos procurar o elo que falta na transformação ecológica. Temos de propor soluções concretas que reduzam os conflitos e evitem os extremismos. Não podemos aderir a soluções de tudo ou nada, como se o mundo e as opções fossem todas a preto e branco, sem matizes, sem negociações, sem ter em conta diferentes necessidades, sem perceber que as ruturas por vezes atrasam a evolução, não a aceleram. Criam resistências e novos obstáculos.

É importante deixar claro que a economia não pode fazer um compasso de espera, tem de encontrar formas para continuar a funcionar e produzir sem que isso comprometa o caminho para a transformação que todos desejamos. Eu entendo a sensação de emergência dos mais novos, partilho com eles a preocupação ambiental e até um certo sentido de urgência. Mas mesmo que eu não pensasse assim, tenho consciência de que o desenvolvimento económico está sempre de alguma forma ligado aos recursos naturais – esgotamos a terra, perturbamos irremediavelmente os ciclos naturais e não sobra nada, nem sequer economia.

É este difícil equilíbrio que temos de procurar. Como? Ora bem, os custos de produção da energia renovável têm vindo a cair. Na última década, precipitaram-se 62% no custo das turbinas das eólicas off-shore e 87% no solar. É verdadeiramente espantoso. Aqui está um incentivo poderoso para a transição verde. Mas há mais aceleradores, sejam eles públicos ou privados, isto é, da sociedade como um todo, mas também individuais, porque dizem respeito às nossas escolhas como consumidores. Atirar tinta não é certamente solução. O maior dano acaba por ser para democracia e de certa forma até para os valores da transição ecológica.