por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 27.08.2022
A maior parte do país começa agora a voltar de férias. Podia ser o momento certo para o recomeço, para o relançamento, agora sim, com as baterias recarregadas. O que tenho visto, ouvido e comprovado nas últimas semanas não confirma, no entanto, esta expectativa. Os empresários e os gestores foram de férias, sim, mas foram com a mala atafulhada de preocupações embrulhadas no papel pardo da incerteza.
Já estamos todos cansados de ouvir a lista. Os factos são o que são. Energia, logística, matérias-primas, escassez de profissionais e, agora, juros a subir. Ninguém gosta de ser portador de más notícias, mas o risco de recessão na Europa sobe de mês para mês, de acordo com analistas. A Alemanha lidera o pelotão, fragilizada como nunca pelo impacto da grande crise energética que atravessamos. Sim, neste sentido estamos de volta aos anos 70. A situação social em França está cada vez mais tensa. Em Itália, além das sucessivas crises políticas, a economia também começa a soluçar.
Na verdade, o panorama é comum à quase totalidade dos países do euro. Como terrível pano de fundo temos a guerra na Ucrânia, destruição, mortes, um país e uma nação inteira em apuros. Na Rússia, o agressor, os impactos também são enormes, mas isso não impede que esteja a ser queimado gás – literalmente queimado para a atmosfera – o equivalente a dez milhões de euros por dia. Além do que isso significa para o ambiente, colocando uma séria ameaça à preservação do Ártico, demonstra a irracionalidade do tempo que vivemos.
As famílias sofrem, o ambiente sofre… e vai ficar pior logo que o frio começar a instalar-se pela Europa fora, mas isso, esta catástrofe social e económica em marcha lenta e inexorável, não parece suficiente para levar os governos europeus e a Comissão Europeia a lançar um programa substancial para evitar o que se torna, dia após dia, cada vez mais inevitável: uma recessão que pode exponenciar todos os problemas que enfrentamos. Dito de outra maneira: um embate muito sério com o deslaçar da coesão social.
Já o disse, a Europa precisa de uma espécie de Plano Marshall. Precisa de convocar os seus melhores anjos para enfrentar depressa – e coloco especial ênfase na rapidez – este Armagedão que ameaça o nosso modo de vida e, de certa forma, até a posição do Velho Continente nos assuntos globais. Não exagero, os riscos são efetivos, apesar de disfarçados por uma estação veraneante animada.
Quanto a Portugal, a CIP reafirma: o governo deve reduzir o IRC já neste Orçamento do Estado. Deve fazê-lo às fatias, para não esticar demasiado as contas públicas, mas pode e deve acabar com a derrama estadual. Os empresários e os gestores estão preparados para dar o seu contributo num acordo para a legislatura: estabelecemos um compromisso para o crescimento da massa salarial e também do salário mínimo… mas, em contrapartida, o governo cria as condições para que as empresas possam atingir esse objetivo sem perder a competitividade. Sem ela, é apenas fogo fátuo.