Todos somos convocados a encontrar e partilhar soluções novas para uma nova fase desta crise.

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 25.04.2020

Uma das diferenças desta crise, em relação a todas as outras de que temos memória, é o facto de ter sido desencadeada por um fenómeno de natureza não económica que, mais ou menos prolongado no tempo, sabemos ser passageiro.

Constatado o sucesso na contenção da pandemia em Portugal, havendo já, em alguns países, sinais de redução consistente da propagação da doença, começamos, agora, a antecipar o desejado regresso à normalidade. Uma normalidade ainda distante, mas que poderá, em breve, iniciar-se, paulatinamente.

Ao nível europeu, foi já estabelecido um roteiro com critérios para avaliar se chegou o momento de começar a flexibilizar o confinamento, princípios a ser respeitados e recomendações a seguir.

Em Portugal, está previsto para dentro de dias um “calendário do desconfinamento”, que nos permitirá “começar a ver a luz ao fundo do túnel”, com precaução e sem garantias de “não retorno” em caso de necessidade. Sabemos que será um processo assimétrico e evolutivo, com a substituição gradual de restrições por medidas concretas para evitar o ressurgimento de cadeias de contágio e proteger as situações ou os grupos de pessoas mais vulneráveis.

Haverá certamente regras a respeitar e exigência de novas formas de atuação que, permitindo o regresso à atividade, trarão constrangimentos necessários mas difíceis de pôr em prática.

Para que tenhamos, coletivamente, sucesso nesta nova fase, todos teremos de estar à altura das nossas responsabilidades e do enorme desafio que temos pela frente.

O Governo, a quem compete a definição das regras, tem de gerir adequadamente vários equilíbrios: por um lado, entre a salvaguarda da saúde pública e a necessidade de reanimar a economia; por outro lado, entre aquilo que exige e aquilo que oferece para mitigar os enormes custos que decorrem dessas exigências. Tem de saber impor regras razoáveis, discernindo o que pode ser pedido, com bom senso, e o que é impraticável. Tem de dialogar e construir uma envolvente favorável à aceitação dessas novas regras.

As empresas terão de saber adaptar-se. Muitas já o fazem. O inquérito do INE/Banco de Portugal revelou, esta semana, que 29% das empresas adaptaram a sua atividade através da diversificação ou modificação da produção e 21% alteraram ou reforçaram os seus canais de distribuição.

Esta flexibilidade e capacidade de adaptação das empresas será, novamente, posta à prova com a necessidade de respeitar novas regras e buscar novas formas de organização, modulando horários, adaptando metodologias, afetando recursos a novas exigências.

As estruturas sindicais terão, igualmente, de ser parte da solução e não do problema, dando provas de flexibilidade no diálogo social e sensibilizando os trabalhadores para o contributo a que são chamados para que este regresso à normalidade seja bem-sucedido. A rigidez de posturas agarradas à defesa intransigente de “direitos adquiridos” não se coaduna com a situação que vivemos.

Em suma, todos somos convocados a encontrar e partilhar soluções novas para uma nova fase desta crise. Todos temos de estar à altura.