Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 22.09.2018

A propósito dos 10 anos da falência do Lehman Brothers, muito se escreveu, nas duas últimas semanas, sobre as consequências e as lições que foram (ou não) retiradas da pior recessão económica mundial desde a Grande Depressão.

Muitos foram os que alertaram para o facto do elevado endividamento (público e privado) permanecer um fator de risco para as economias.

Outros, destacaram a dificuldade de os bancos centrais reverterem as medidas extraordinárias que tomaram, ficando assim com pouca margem de manobra para intervir no caso de nova crise.

Outros, ainda, focaram-se no muito que foi feito e no muito que está por fazer no que respeita à estabilização do sistema financeiro. Em particular, na Europa, a União Bancária avançou, mas continua incompleta, não permitindo ainda precaver o contágio entre risco soberano e risco da banca. E, em Portugal, o sistema bancário, apesar de mais capitalizado e dispondo de mais liquidez, continua a falhar na canalização de recursos financeiros para o setor produtivo.

No entanto, poucos foram os que deram alguma importância à consequência da crise que considero ser a mais grave, a que marcou mais profundamente as sociedades e a que mais riscos comporta: a da quebra da confiança nas instituições.

Esta quebra da confiança nas instituições tem, evidentemente, repercussões económicas (desde logo no investimento), mas tem, sobretudo, consequências políticas que estão à vista.

De facto, foram muitos milhões a pagar, bem caro, as consequências da ganância e irresponsabilidade de alguns. Como foi isso possível? Onde estavam e o que fizeram os decisores a quem competia proteger a sociedade de tais riscos?

O cinismo e o desconforto com o funcionamento das instituições generalizaram-se e, um pouco por todo o mundo, os cidadãos encaram o futuro com um misto de desilusão e de medo. Estes sentimentos têm alimentado a ascensão de defensores de soluções extremistas e populistas.

Mesmo que não sejam generalizadas, é neste tipo de soluções extremistas e populistas que residem os maiores riscos de novas crises, num mundo cada vez mais globalizado, onde decisões pontuais se repercutem rapidamente a nível mundial. Além disso, afetam a capacidade dos Estados se coordenarem na resposta a esses riscos. Na Europa, está bem patente essa ameaça à coesão política, num momento em que é preciso reforçar o apoio ao projeto europeu.

A confiança nas instituições tem, por isso, de ser restaurada, para não cairmos em situações de rutura que destruam os fundamentos dos sistemas políticos e económicos em que continuamos a acreditar e que comprometam as causas que defendemos.

Causas como a liberdade, a democracia e a economia de mercado.

Como restaurar a confiança nas instituições?

Voltarei a estas questões num próximo artigo.