É certo que, conjugando as previsões para a produção e o emprego, podemos esperar alguma recuperação da produtividade das empresas, condição para que estes desafios sejam vencidos com sucesso. Temo, contudo, que, sem uma política económica mais favorável, essa recuperação não seja suficiente para inverter a atual tendência de abrandamento económico.

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 04.01.2020

https://www.dinheirovivo.pt/opiniao/transformacao-digital/

Entramos em 2020 num ambiente relativamente mais distendido, sem que alguns dos riscos que ensombravam as perspetivas económicas internacionais se tenham materializado.

Os Estados Unidos e a China anunciaram para 15 de janeiro a assinatura de um primeiro acordo que promete travar a escalada nas tensões comerciais entre os dois países, suspendendo a entrada em vigor de tarifas retaliatórias.

No dia 31 de janeiro, o Brexit será uma realidade, mas no quadro de um acordo que proporciona o indispensável período transitório para que os políticos negoceiem o modelo de enquadramento futuro, sem ruturas imediatas nos fluxos comerciais.

No entanto, se escapámos à lei de Murphy – “se alguma coisa puder correr mal, correrá mal” – as perspetivas não se afiguram animadoras e os riscos e incertezas permanecem bem vivos.

As recentes declarações do Primeiro-ministro britânico abrem a ameaça de, na ausência de um entendimento rápido com a União Europeia, o final do período transitório dar lugar a um cenário semelhante àquele a que agora escapámos.

Não estamos livres de que a Administração norte-americana abra novas frentes da guerra comercial, centrando a sua atenção na União Europeia.

A Alemanha escapou à entrada em recessão técnica, mas o impacto da conjuntura externa mais adversa já se faz sentir em muitos países, incluindo muitos dos que, até agora, mantinham um forte dinamismo económico. De acordo com as últimas projeções, o PIB da União Europeia deverá aumentar apenas 1,4%, tanto em 2019 como nos próximos dois anos.

No plano interno, a proposta de Orçamento do Estado para 2020, apesar de algumas medidas positivas, ficou aquém do que seria necessário para alterar significativamente um enquadramento fiscal e financeiro pouco propício ao investimento e à competitividade. Acresce ainda o problema da escassez de recursos humanos qualificados, que as empresas enfrentam, cada vez com mais acuidade.

É neste enquadramento externo e interno adverso que as empresas se confrontarão com os grandes desafios de fundo que se lhes colocam e que já aqui identifiquei: os desafios da transformação digital e tecnológica, dos mercados globais, do endividamento, da sustentabilidade ambiental, da demografia.

É certo que, conjugando as previsões para a produção e o emprego, podemos esperar alguma recuperação da produtividade das empresas, condição para que estes desafios sejam vencidos com sucesso. Temo, contudo, que, sem uma política económica mais favorável, essa recuperação não seja suficiente para inverter a atual tendência de abrandamento económico.

Resta-me uma única certeza: mesmo que nem sempre lhes seja reconhecido o mérito, as empresas continuarão a remar contra a corrente.

A minha mensagem no início deste ano é, pois, de estímulo para que as empresas continuem a demonstrar o seu valor e a sua capacidade de lutar contra a adversidade, fazendo de 2020 um ano mais próspero.