João Vasconcelos, sendo um homem do seu tempo, percebeu que o país necessitava de se preparar para a transformação tecnológica na indústria.

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 22.07.2017

“O sentido crítico e a permanente insatisfação face ao muito que é preciso fazer para superar fragilidades e bloqueios, com vista ao relançamento do crescimento em bases sólidas e duradouras, não me impedem de reconhecer o caminho percorrido por Portugal nos últimos anos e o mérito de todos quantos contribuíram para a construção desse caminho.

No momento em que João Vasconcelos cessa as suas funções como Secretário de Estado da Indústria é justo reconhecer que, pela sua visão e capacidade de trabalho, deixa uma marca indelével na indústria nacional.

Não é todos os dias que vemos partir do Governo alguém que verdadeiramente admiramos.

Sendo um homem do seu tempo, percebeu que o País necessitava de se preparar para a transformação tecnológica na Indústria, onde todos deveriam ter lugar. Foi responsável pelo lançamento do Programa Indústria 4.0, impulsionando a economia digital, empurrando a indústria portuguesa para um futuro de esperança. Destaco em particular os programas de requalificação profissional criados neste âmbito, que permitirão requalificar e formar em competências digitais mais de 20 mil trabalhadores.

Foi o principal impulsionador, no Governo, da vinda da Web Summit para Lisboa, com os resultados que se conhecem. Esteve envolvido na atração de novos projetos digitais para Portugal, como, por exemplo, o primeiro centro mundial de competências digitais da Mercedes. Ajudou o Governo a antecipar o futuro e a criar legislação para acolher em Portugal os primeiros carros autómatos.

Faço votos de que as políticas em que se empenhou prossigam e se desenvolvam, no sentido de uma estratégia industrial que coloque a inovação e a competitividade empresarial como preocupação transversal em toda a intervenção do Estado na economia.

A um nível mais alargado, o reconhecimento pelo caminho percorrido esteve também presente, recentemente, na visita do Comissário Moscovici a Portugal.

As suas declarações e as perspetivas de que, em breve, as previsões da Comissão serão revistas em alta são, evidentemente, motivo de satisfação e, sobretudo, reforçam a tão necessária confiança externa no nosso país.

Um dos pontos da agenda do Comissário Moscovici em Lisboa foi o do crédito malparado na banca.

A intervenção recente do Conselho e da Comissão Europeia sobre este assunto mostra que este não um problema exclusivamente português. Espero que esta visita permita coordenar as estratégias nacional e europeia e renovo o apelo ao Governo para que, muito em breve, seja encontrada uma solução que tenha em conta a necessidade de recuperação de um número significativo de empresas economicamente viáveis.

Como Moscovici afirmou, “o desafio agora é transformar a recuperação num crescimento sustentável”. Este desafio exige reformas que removam os obstáculos que persistem e, insisto novamente, políticas públicas que, transversalmente, coloquem a competitividade empresarial no centro de toda a intervenção do Estado na economia.”