A legislação e o enquadramento regulamentar, a par das questões económicas e financeiras, são os dois principais obstáculos à implementação de processos de circularidade por parte das empresas portuguesas. Esta é uma das conclusões preliminares do inquérito realizado pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal, junto de 194 empresas, em parceria com a EY‑Parthenon.

O inquérito insere-se no projeto Economia Mais Circular, o maior e mais completo estudo alguma vez feito em Portugal sobre Economia Circular, desenvolvido em estreita colaboração com as empresas, ao longo de 12 meses. Além de fazer um levantamento do estado da arte da Economia Circular em Portugal – identificando as boas práticas já adotadas e os projetos em curso – o projeto E+C procura estimular a adoção de uma metodologia de medição da circularidade nas empresas portuguesas amplamente testada a nível internacional, através da ferramenta Circulytics, desenvolvida pela Fundação Ellen MacArthur.

Na resposta às barreiras mais restritivas à implementação de estratégias de circularidade, 37,1% das empresas respondentes identificou a legislação e o enquadramento regulamentar, nomeadamente devido a regulamentação complexa (80%) e processos de desclassificação de resíduos difíceis e demorados (61%). Também as questões económicas e financeiras foram identificadas como um dos principais obstáculos por 35,6% das empresas, desde logo devido à necessidade de investimento de longo prazo (64%) e de adoção de processos de gestão e planeamento mais dispendiosos devido à aplicação de práticas mais complexas (57%).

Destaque ainda para as questões técnicas, classificadas igualmente como tema muito restritivo por parte de 31,1% das empresas. As justificações mais apontadas pelas empresas foram a necessidade de adoção de tecnologias específicas (e.g. reciclagem) para a criação de produtos circulares e de sistemas de produção circulares, mantendo o nível de qualidade ou segurança dos produtos (70%) e a necessidade de maior know-how e conhecimento tecnológico (56%).

“Este inquérito, cujos resultados são ainda preliminares, tornam óbvia a necessidade de termos procedimentos mais simples e mais céleres para a utilização de matérias-primas secundárias, além de clarificação regulatória sobre os vários mecanismos de desclassificação de resíduos para subprodutos”, sublinha Sílvia Machado, Assessora Sénior da CIP para a área de Ambiente & Clima. E acrescenta: “Além disso, são essenciais incentivos para a utilização de matérias-primas secundárias pelos fabricantes (frequentemente mais onerosas do que as virgens), bem como para o consumidor, para que valha a pena investir num produto mais durável, eco concebido para poder ser reparado e/ou recondicionado e totalmente reciclado no fim de vida”.

Praticamente todas as empresas respondentes (97%) consideram ser uma vantagem competitiva as empresas terem uma abordagem de Economia Circular na forma como adquirem, produzem e vendem produtos. A grande maioria das empresas considera a escassez de recursos naturais muito crítica (41%) ou crítica (25,3%) para o funcionamento contínuo do negócio.

As estratégias de Economia Circular são encaradas como uma solução para mitigar a escassez de recursos naturais por mais de metade dos respondentes considerados. No entanto, apenas 19% integra quase sempre a Economia Circular na tomada de decisões estratégicas para reduzir os seus impactos ambientais.

Os resultados globais do inquérito serão divulgados em setembro.