por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 08.04.2023

Despeço-me, hoje, dos leitores que, ao longo dos últimos seis anos e meio, se habituaram à minha presença assídua, todos os sábados, neste jornal.

Desde já o meu obrigado ao Dinheiro Vivo pelo espaço que me proporcionou para expressar, livremente, a minha opinião e pela excelente relação que, durante estes anos, foi possível manter.

Faço coincidir o fim desta colaboração com o Dinheiro Vivo com a passagem de testemunho como presidente da CIP. Testemunho que recebi, em janeiro de 2010, do Eng.º Francisco van Zeller e que passarei, no próximo dia 12, ao Dr. Armindo Monteiro.

Durante 13 anos, liderei a CIP ao longo de várias e profundas crises pelas quais Portugal passou: a intervenção da troika e a crise do setor financeiro, que levou à falência de bancos de referência da economia nacional. Mais recentemente, tivemos, com a pandemia de covid -19, a maior recessão dos últimos 100 anos. Agora, vivemos os impactos da guerra que regressou à Europa, com mais disrupções nas cadeias de abastecimento e uma escalada de custos que ameaçaram as empresas e fizeram regressar a inflação ao centro das nossas preocupações.

Ao longo destes tempos difíceis, a CIP foi capaz de antecipar estratégias e participar na construção de soluções. Soubemos dar, em cada momento, as respostas que nos eram exigidas. Tivemos muitas vezes razão antes do tempo nas propostas que formulámos e apresentámos. Algumas foram ignoradas, outras foram sendo incorporadas nas políticas públicas, quase sempre, é certo, com atraso face à urgência que a realidade requeria.

Nestes últimos anos, uma palavra passou a fazer parte do nosso vocabulário quotidiano – resiliência. E é bem verdade que, em todas estas crises, a resiliência das empresas surpreendeu.

Mas não basta sermos resilientes. O atual sentimento de insatisfação face às expectativas que alimentamos só pode ser suprido através de mais crescimento económico, assente em maior competitividade. Neste último artigo, permitam-me que insista numa ideia que esteve presente em muitos dos textos que aqui publiquei: só produzindo mais e melhor poderemos gerar o rendimento que permitirá satisfazer as legítimas aspirações dos portugueses.

Este desígnio exige mais do que resistir às crises e recuperar. Exige uma estratégia consistente, capaz de conduzir à transformação da economia, ao crescimento e à convergência.

Daí a insatisfação que sempre transpareceu nestes meus artigos perante a inércia das políticas públicas, a falta de reformas que estruturalmente o país tem de fazer e o que costumo designar por desfasamento entre o tempo das medidas e o tempo das empresas.

Termino expressando a minha confiança no novo presidente da CIP, Armindo Monteiro, e na equipa que o acompanha. Tenho a certeza de que, como sempre aconteceu desde a sua fundação, a CIP conta com a liderança certa para responder, em cada momento, aos desafios que tem pela frente.