por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 09.03.2024
O dia de reflexão antes da ida às urnas faz desde sempre parte da rotina eleitoral e contraria estoicamente a velocidade crescente do nosso dia-a-dia e a voracidade mediática de um mundo sempre ligado à rede. Pois bem: felizmente, esta pausa político-partidária existe e resiste contra ventos e marés. Claro, há quem considere que se trata de um interregno anacrónico, argumentando que o manancial de informação disponível online no mesmíssimo dia, sem quaisquer limitações ou constrangimentos, anula o efeito pretendido.
Não penso que seja assim. Os atores políticos param todas as ações de campanha, as máquinas partidárias ficam em silêncio e os comentadores também. Depois de mais de um mês sem quaisquer pausas, este parêntesis contrasta fortemente com a agitação anterior e permite-nos digerir e pensar um pouco sobre tudo o que vimos, lemos e ouvimos sem qualquer interrupção, sem diretos televisivos e sem comícios que captam a nossa atenção. É por esta razão que estou convencido que se trata de um momento importante – as eleições são instantes vitais em democracia, exigem aos decisores que apresentem e defendam as suas ideias e a nós, eleitores, que façamos a nossa parte, isto é, que pensemos sobre qual o melhor caminho a seguir perante as ideias que nos foram propostas.
O nosso país vive um momento especialmente complexo. Se olharmos para o mundo à nossa volta constatamos que os riscos e a incerteza são realmente numerosos e poderosos. Muitas destas ameaças não controlamos, é o caso das duas terríveis guerras em curso. Mas há outras ameaças em que, sim, temos mesmo uma palavra a dizer. O rumo económico do país, as escolhas sobre educação, saúde, habitação e impostos, apenas para dar alguns exemplos, dependem em certa medida do voto de cada um de nós.
Os programas eleitorais dos diferentes partidos avançam soluções e propostas para cada uma destas áreas, materializando ideias e princípios que se propõe dar corpo a visões ideológicas e políticas singulares – umas mais à esquerda, outras mais à direita, umas mais intervencionistas e outras menos. Penso que seja possível afirmar que todos os candidatos querem que os portugueses possam viver melhor, com mais oportunidades, com menos desigualdades e mais coesão social. O que os distingue é o caminho para lá chegar, as políticas públicas que se propõe concretizar ao longo dos próximos quatro anos.
Ao fim de 50 anos de democracia, muito foi conseguido, mas há certamente muito ainda por fazer. O nosso dever é, portanto, não darmos tudo por garantido – as eleições exigem a nossa participação, exigem que saibamos valorizar a possibilidade de juntarmos o nosso voto ao de outros concidadãos para, assim, fortalecermos o país. A abstenção é, por isto mesmo, o nosso primeiro adversário comum. O segundo, é sabermos aceitar os resultados eleitorais. O terceiro será revelarmos a abertura necessária – seja qual for o partido vencedor – para encontrarmos pontos de encontro capazes de levar Portugal para a frente. Sem este contributo coletivo fica tudo muito mais difícil.