por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 12.03.2022
Todas as atenções se centraram sobre a tragédia que se abateu sobre a Europa e o mundo e a urgência de encontrar soluções para as suas consequências na economia. Precisamos de respostas urgentes. Respostas que ainda não são claras.
A nível nacional, estão a ser equacionadas medidas para mitigar os efeitos desastrosos que os aumentos de custos estão a ter nas empresas. Tenho defendido, a este respeito, medidas de apoio excecionais à economia, que devem ser utilizadas enquanto o problema persistir, dirigidas às empresas de acordo com a sua necessidade, tipologia e setor.
A Europa tem de responder, unida, a esta catástrofe. Politicamente e economicamente. Em todas as frentes, solidariamente, construindo soluções comuns, com uma coesão ainda superior à que soube construir face à pandemia.
No Conselho Europeu, que no momento em que escrevo está ainda reunido, discutem-se essas soluções. Na agenda estão três pontos: o reforço das capacidades europeias de Defesa, a redução da dependência energética, mas também a construção de uma base económica mais sólida. Este último ponto significa que o urgente não nos pode fazer esquecer o importante. De facto, como declarou a BusinessEurope na mensagem a este Conselho, a força global da União Europeia vem do seu poder económico baseado nos valores europeus, sendo por isso da maior importância que cuide bem da sua economia.
Antes do início da guerra na Ucrânia, as expectativas apontavam para que o nível de atividade económica anterior à crise fosse atingido, em Portugal, em meados deste ano. Será muito provavelmente mais tarde. Na atual situação, tendemos a olhar exclusivamente para o curto prazo, mas não podemos perder de vista que tão importante como recuperar é transformar a nossa economia.
Lembro, por isso, as grandes linhas das propostas apresentadas pelas cinco grandes confederações reunidas no Conselho Nacional das Confederações Patronais, centradas no objetivo do crescimento. Este passa necessariamente pelas empresas, nomeadamente pelo capital humano, que é o seu principal ativo, e pelo investimento, indispensável à incorporação de inovação tecnológica nos produtos e nos processos.
Lembro também que a transformação da economia exige reformas: destacámos três grandes áreas: fiscalidade, Administração Pública e Justiça.
Lembro ainda a importância de colocar os fundos europeus ao serviço de uma estratégia de crescimento com base na competitividade empresarial.
É impressionante a forma como passou desapercebida a aprovação da proposta de Acordo de Parceria com a Comissão Europeia com vista ao Portugal 2030. Mereceu apenas uma linha lacónica no comunicado do Conselho de Ministros do passado dia 3. Não conhecemos esta proposta. Desde que foi apresentado um draft deste Acordo, em novembro, para consulta pública, não tivemos mais informações de como evoluiu o processo e como foram acolhidos (ou não) os contributos e críticas recebidos. Nesta semana, esteve em Lisboa uma delegação da Comissão Europeia para negociar a proposta que foi formalmente apresentada.
Pese embora a urgência do momento, não nos esqueçamos do importante.