por Rafael Alves Rocha, Diretor-geral da CIP
Publicado no Jornal de Negócios a 20.02.2024

«Estar vivo é compreender mal os outros». A frase pertence ao norte-americano Philip Roth e ouvia-a há dias pela boca de um outro escritor (Hugo Gonçalves). Começo desta forma porque o momento económico que atravessamos exige que enfrentemos juntos este impulso para a incompreensão e unamos as forças. As soluções impostas têm, em regra, fôlego curto e parca capacidade para conseguir alterações estruturais duradouras. E por este motivo que, em setembro do ano passado, a CIP – Confederação Empresaria] de Portugal propôs aos sindicatos e aos trabalhadores que pudessem juntar-se na construção de um verdadeiro pacto social capaz de relançar o crescimento
económico do nosso país.

Hoje e amanhã vamos dar sequência a este grande, urgente e amplo compromisso que ambicionamos para Portugal. Vamos juntar empresários, gestores, académicos, pensadores e administradores da “coisa pública”, mas também os líderes dos dois maiores partidos na verdade, convidámos todos os líderes com grupos parlamentares na Assembleia da República para que nestas 48 horas de intenso debate, profícua discussão e troca de ideias encaremos de frente os problemas e, lado a lado, definamos um caminho coletivo que nos conduza a mais riqueza, a mais oportunidades e a mais coesão social.

O congresso «Pacto Social. Mais Economia para Todos» acontece a poucas semanas das eleições por uma razão evidente: a experiência ensina-nos que o debate tem de ser alargado, tem de ocorrer no “timing” adequado e tem de envolver todas as sensibilidades. O país exige-nos esta capacidade de compromisso. Neste sentido, o período pré-eleitoral, embora afetado pelo ruído habitual destas ocasiões, apresenta-se como a altura certa para que os portugueses tenham acesso aos factos (reais), às diversas soluções propostas e às decisões que têm de ser tomadas rapidamente pelos decisores políticos. Tudo sem encenação, com clareza, objetividade e a necessária sustentação intelectual e técnica. O congresso de hoje não é propaganda pelo contrário, combate a propaganda.

O ano que agora teve início está repleto de armadilhas, desafios e riscos, sejam externos ou internos. Os principais indicadores económicos e as últimas previsões demonstram que o crescimento alcançado no último trimestre de 2023 não terá seguimento. O crescimento do PIB talvez não ultrapasse os 1,2% – um ponto percentual abaixo do ano passado. Isto é, quase metade do que não conseguimos nos últimos quatro trimestres. O problema desta quebra é evidente: o registo de 2023 também não serve o país. O atraso de Portugal face aos nossos aliados e concorrentes europeus tem de ser reduzido rapidamente, sendo que isso pede um crescimento muito mais robusto. Mais do que isso: todos os Estados-membros que, em 2000, eram mais pobres que Portugal, convergiram. Seis deles Malta, República Checa, Eslovénia, Lituânia, Estónia e Polónia ultrapassaram- nos. Será esta uma fatalidade?

A resposta é taxativa: não. Podemos e devemos criar maior resiliência. Podemos e devemos tornar-nos mais competitivos. O talento português já não é a quimera anterior temos pessoas de enorme qualidade, temos centros de saber comparáveis aos melhores, temos empresas que, apesar do contexto nacional difícil, conseguem afirmar-se e crescer globalmente. Por que não conseguimos que estes êxitos sejam mais habituais e o novo normal do nosso país? Os portugueses querem uma vida melhor, querem melhores salários, querem um Estado menos omnipresente e pesado, um Estado menos desconfiado e mais transparente. Não podemos aceitar a erosão da confiança coletiva e o desânimo individual.

O salto quântico que demos nas últimas décadas foi relevante, mas ainda é manifestamente insuficiente. O crescimento dos populismos, à esquerda e à direita, deve incentivar-nos a procurar as melhores respostas, fórmulas e soluções. Nesta pré-campanha já houve um pequeno sinal de mudança: pela primeira vez falou-se de produtividade como fator essencial para sustentar a melhoria das condições de vida e o aumento dos salários. Sem mais produtividade, todos os aumentos de salários têm sempre vida curta, não são sustentáveis. O que ambicionamos é construir, desde logo, uma economia mais competitiva e de mais valor acrescentado e, por isso mesmo, de mais e melhores oportunidades para todos. Todos significa… mesmo todos – que ninguém fique para trás.