por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 20.04.2024

A frase de Enrico Letta ontem, em Bruxelas, não precisa de legenda. A Europa está a perder cada vez mais terreno para os Estados Unidos, mas também para a China. É impossível negar esta evidência. Após anos e anos de decisões e medidas que prejudicaram gravemente a competitividade da UE, os líderes europeus, a reboque do relatório produzido pelo ex-primeiro-ministro italiano, decidiram então acordar para a realidade.

As conclusões do Conselho Europeu extraordinário de 17 e 18 de abril definem assim os pilares de um novo “Pacto para a Competitividade”. Este Pacto baseia-se na necessidade de aprofundar o mercado único, estabelecer uma política industrial forte e construir uma verdadeira união energética. O Pacto refere ainda a necessidade de mobilizar os fundos necessários para levar a cabo grandes investimentos. A segurança e a defesa são áreas fundamentais, mas as preocupações sobre a falta competitividade europeia – o que implica, forçosamente, olhar a sério para a produtividade -, é um assunto central, aliás, vital.

Basta olharmos para as previsões de crescimento para este ano na maioria dos países europeus – e em particular nas principais economias – para constatarmos as tremendas dificuldades que a UE tem sobre ombros. Enchemos a UE de regras e obrigações, criámos um contexto dispendioso e fortemente limitativo para os movimentos das empresas, exigimos o cumprimento de metas tão ambiciosas como dispendiosas, e depois ficamos admirados que do outro lado do Atlântico e do outro lado do mundo criem mais riqueza e invistam mais nas áreas que vão produzir mais valor acrescentado?

Vejamos. Onde estamos, nós europeus, no que diz respeito à Inteligência Artificial? Temos conhecimento e pessoas capazes, é verdade, mas estamos muito atrás dos nossos concorrentes em tudo, exceto na regulação. Reparem bem na ironia: temos a regulação de IA mais avançada, talvez até a mais exigente, mas as empresas que dominam o mercado não são europeias. Há aqui um problema evidente: damos mais importância às regras do que à inovação. Acontece que a regulação, sendo importante, não cria riqueza; e o que a Europa precisa desesperadamente é de gerar recursos para poder continuar a orgulhar-se de ter a rede social mais competente do mundo.

Falta-nos competitividade, falta-nos investimento, falta-nos dinamismo. O Velho Continente tornou-se complacente e pouco previdente. Subitamente, os carros elétricos chineses tomaram de assalto a Europa, exatamente como acontecera com os telemóveis, os computadores, as televisões e todo o tipo de eletrónica. A fase dos produtos chineses baratos passou – ou melhor, foi complementada por uma oferta de marca e altos padrões de qualidade. Quanto aos EUA, a liderança americana está à vista, a capacidade da maior economia do mundo para crescer e vencer rapidamente as dificuldades atesta a sua extrema vitalidade. Queremos o mesmo? Então, deixemo-nos de sonambulismo. Façamos acontecer.