por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 29.07.2023

A Jornada Mundial da Juventude é uma extraordinária oportunidade para Portugal – desculpem-me o egocentrismo patriótico – e para todo o mundo. Bem sei que o Papa vem à Jornada, um acontecimento global, não vem visitar o nosso país. Estará em Portugal, sim, mas para falar a todos. Na verdade, o programa da Jornada, sendo pensado para os jovens do mundo inteiro, corre o risco de passar ao lado da maior parte da população. Paradoxalmente, as pessoas de Lisboa, sendo elas as anfitriãs, serão quase observadoras, não as protagonistas deste grande evento.

A ONU proclamou 1985 como o Ano Internacional da Juventude. Em março desse ano, mais de 300 mil jovens provenientes dos cinco continentes reuniram-se com o Papa João Paulo II, na Praça de São Pedro. O impacto do encontro com esta multidão foi tão extraordinário que o Papa decidiu instituir a Jornada Mundial da Juventude. Desde então, o evento acontece anualmente, alternando anos com expressão mais local e outros de celebração mundial. Cada um destes encontros tem, no entanto, impacto à escala global.

No Panamá, entre 22 e 27 de janeiro de 2019, o atual Papa fez a sua primeira visita a um país da América Central. Nessas JMJ, exortou os jovens a recusar, a resistir e a contrariar a resignação que se infiltra e nos enfraquece a todos – individual e coletivamente. Tal como o conformismo, a resignação é “uma das drogas mais abusadas do nosso tempo”, disse o Pontífice. Jorge Bergoglio tinha – e continua a ter – toda a razão. O insight – como dizem os publicitários – está absolutamente certo. Toca no ponto certo e no problema central. Este torpor geral continua a fazer o seu caminho deixando atrás de si um terrível lastro de indiferença que enfraquece as nossas comunidades.

Em Portugal, sabemos muito bem do que fala o Papa. Exatamente por isso, esta é uma discussão urgente. É urgente para todos, mas naturalmente de forma particular para os mais jovens. Portugal não pode ser uma Nação estigmatizada, presa numa longínqua memória epopeica do passado, amarrada às dificuldades do presente e, sobretudo, alheada da construção do futuro. Os mais jovens, eles em especial, não podem perder a capacidade de sonhar, criar e inventar o amanhã. Não podemos aceitar uma sociedade que perdeu a capacidade de comover-se, de consolar, compreender e acompanhar os mais vulneráveis. Uma Nação mede-se também pela forma como são tratados os mais desfavorecidos.

É por tudo isto que o Papa exorta os mais jovens a olhar para além do horizonte e do imediato, “permanecer de pé enquanto tudo à nossa volta parece desmoronar”. E disse mais nas Jornadas do Panamá: “Buscar o bem comum chama-se amizade social. A inimizade social destrói.” Os jovens têm de ser os protagonistas de uma mudança fundamental que se dirige ao mundo inteiro e que pede o nosso esforço permanente.

Contrariar esta resistência exige trabalho. Exige, por exemplo, maior diversidade nas organizações – o que inclui as empresas. Se acreditarmos que somos realmente todos iguais em dignidade isso vai levar-nos a respeitarmo-nos mais uns aos outros, a aceitar novas ideias – sejam elas de quem forem -, o que vai gerar melhores soluções, avanços mais rápidos, vidas mais felizes e, claro, mais envolvimento, mais compromisso e menos resignação. Num país assim, os jovens talvez emigrem menos e passem a confiar que Portugal tem as oportunidades que eles procuram e merecem. O PRR ajuda-nos, dá um empurrão, mas não é a solução mágica, o elixir que tudo resolve. A nossa atitude é decisiva. Não é uma questão religiosa, é uma escolha que transcende a fé. É pura vontade que se transforma em esperança.