por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 15.01.2022

É costume dizer-se que tudo é política, uma espécie de axioma que é ainda mais verdadeiro em período eleitoral. A campanha para as eleições de 30 de janeiro ainda nem sequer começou e vejam bem o quanto já se discutiu sobre o assunto. Quer dizer, debates e notícias e análises não têm faltado. O interesse das pessoas também é notório – as audiências televisivas dos debates confirmam o apetite pelos confrontos entre líderes partidários. E no entanto, numa análise mais cuidada do que foi dito, isto é, se olharmos para a substância do que foi discutido… facilmente constatamos que, com honrosas exceções em que as políticas públicas foram realmente discutidas, a maioria dos debates não passaram de musculados braços-de-ferro sem tempo para a real discussão de programas e problemas.

Não me interpretem mal: a transmissão em direto dos frente-a-frente foi uma ótima iniciativa. Como escrevi no início deste texto, tudo é política – e o nosso país necessita realmente de despertar para os riscos e as oportunidades que tem pela frente. Os portugueses não podem viver em piloto automático, permitindo aos políticos e outros atores que decidam e controlem todo o processo democrático. A participação política e o envolvimento na discussão pública são fundamentais para que as democracias não se tornem complacentes ou, de certa forma, presas fáceis da demagogia. Uma opinião pública informada e participativa obriga-nos a todos a ser mais consequentes e preparados.

Digamos, então, que o primeiro passo está dado: as pessoas mobilizaram-se para ouvir e avaliar os candidatos partidários. Julgo, contudo, que a maioria dos debates ficou aquém do potencial que encerravam. Não querendo ser injusto, genericamente diria que o confronto Costa-Rio foi dos mais bem conseguidos, já que o tempo – 75 minutos, o triplo dos outros debates – permitiu aos candidatos apresentarem as ideias para o país e testarem a solidez das propostas dos adversários.

Mais do que isso, o debate económico assumiu o necessário protagonismo, já que as escolhas que forem feitas pelo próximo governo terão certamente impacto na vida de pessoas e empresas.
Portugal já se encontrava numa situação frágil antes da pandemia. A covid agravou os rácios de dívida pública, mas expôs ainda mais os elevados custos de contexto que pressionam as empresas em Portugal. Ainda temos 15 dias de campanha pela frente. Vamos, então, discutir as melhores formas de o país lidar com a inflação, com a escassez de mão-de-obra e com os custos da energia – desafios imediatos e urgentes -, mas também olhar para a necessária reforma fiscal e judicial, pilares fundamentais de uma economia que todos queremos mais competitiva. A desigualdade social resolve-se através da criação de mais riqueza – as eleições legislativas são, por isso, o momento certo, aliás, o momento ideal para que todos ponham as cartas na mesa e digam que Portugal querem ter e como pretendem atingir esses objetivos. Este não é um momento qualquer das nossas vidas.