Não é possível impedir o desemprego por decreto: só salvando as empresas é possível preservar o emprego.

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 18.04.2020

A História ensina-nos que é nas crises e na adversidade que vem à tona o melhor que existe em nós, e que se revela a real capacidade para resolver os problemas.

Nestas últimas semanas, face a situações inteiramente inesperadas e a desajustamentos nada habituais nas cadeias de abastecimento, temos sido surpreendidos por exemplos de adaptação célere por parte das empresas e outras instituições, além de muitas manifestações de solidariedade e dádiva comuns em Portugal nestas situações.

Assistimos, também, a um extraordinário esforço por parte de estruturas do Estado e da Administração Pública na criação de condições e autorizações excecionais, em tempo extraordinariamente curto, o que possibilitou, por parte das referidas empresas, uma resposta eficaz ao crescendo de necessidades em produtos e em equipamentos que o combate à crise sanitária exige.

Tal sucedeu, por exemplo, no caso da produção de desinfetantes e material de uso médico, para a qual muitas empresas se puderam mobilizar de forma expedita, com grande benefício para todo o país.

Foi igualmente possível, perante situações de urgência e grande gravidade, o apoio de organizações empresariais a organismos do Estado o qual, claramente, contribuiu para a qualidade e celeridade das suas atuações.

Este é um quadro gerador de confiança que desejamos que perdure para além da crise que enfrentamos.

Haverá, noutras áreas, lamentavelmente, exemplos de insistência, por parte de entidades públicas, em procedimentos que se revelam, nestas circunstâncias, simplesmente impraticáveis. As medidas tomadas ao nível político chocam, por vezes, no terreno, com bloqueios indesejáveis ou falta de comunicação entre estruturas. Verificam-se, ainda, excessos de zelo na atuação de entidades da Administração Pública, quando tal postura seria claramente dispensável para quem se vê confrontado com tamanha adversidade.

Infelizmente, o que mais me choca é que há também, no nosso país, forças que, face a esta batalha que milhares e milhares de empresas estão a travar para garantir o emprego a milhões de portugueses, preferem dar maior visibilidade a casos em que, alegadamente, um número diminuto de empresas terá agido (quiçá em desespero) abusiva ou ilicitamente.

Talvez porque tantos e tantos bons exemplos vão surgindo de empresas que se transfiguram e reconvertem a sua produção para responder à escassez de bens e serviços cruciais na crise sanitária que vivemos, talvez pelo drama de tantos e tantos empresários que não sabem como podem pagar salários no fim do mês, há quem, por motivos ideológicos, centre os seus melhores esforços na tarefa de denegrir a imagem de empresas e empresários.

Valorizemos os bons exemplos, e procuremos replicá-los. Mobilizemos as nossas forças em torno de um objetivo comum: façam as empresas tudo o que puderem para preservar os empregos; façam os trabalhadores tudo o que estiver ao seu alcance para salvar as empresas.

Porque, como não me canso de insistir, não é possível impedir o desemprego por decreto: só salvando as empresas é possível preservar o emprego.