por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 20.01.2024

O medo é assustador, é um sentimento capaz de nos fazer recuar no momento em que temos de tomar uma decisão. É uma força poderosa que nos torna incapazes de reagir. Confrontados com uma opção, adiamos ou escolhemos não mudar nada. Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar, diz a sabedoria popular que sustenta o triunfo do imobilismo nacional sobre a ação.

Já o escrevi aqui na semana passada: uma parte do eleitorado ainda não percebeu que arrisca muito mais quando procura garantir apenas o (pouco) que tem do que quando procura ganhar qualquer coisa de novo. Penso que é um erro imperdoável as forças políticas procurarem, através de discursos simultaneamente sedutores e ameaçadores, tornar os eleitores reféns do medo ou da própria fobofobia – o medo do medo. Os partidos políticos deveriam, sim, estimular os portugueses para o desafio de ousar e de empreender.

Os empresários conhecem bem a necessidade de enfrentar os medos mais íntimos e mostrar a coragem de seguir em frente. Não há economia sem algum risco, não há crescimento sem ousadia e ambição, não há segurança no imobilismo – o imobilismo é, na verdade, uma ratoeira. Quem tem um negócio ou uma empresa conhece o exorbitante preço da estagnação. Parar é, mais cedo ou mais tarde, sucumbir à concorrência e à mudança. Num país, tudo leva mais tempo, mas as consequências são exatamente as mesmas. A inação leva à falência do Estado Social e à implosão da coesão social.

É fundamental incentivar nos portugueses a assumir alguns ingredientes deste modo de viver e de assumir desafios ambiciosos. Perder a paixão pelo que fazemos e o entusiasmo pela vida, a falta de coragem para superar o fracasso e a adversidade, isso, sim, é realmente assustador. É o contrário de liberdade, é um terrível afunilamento das possibilidades e do engenho que todos temos dentro de nós.

Penso que uma parte de Portugal prefere navegar à bolina e colocar-se sempre na posição de espetador e não de ator. Espetadores do debate político, espetadores da economia do país e espetadores da vida da empresa onde trabalha. O momento difícil que vivemos, com a atividade económica em evidente abrandamento, exige de todos nós a consciencialização de que o nosso envolvimento e empenho individuais devem ser levados em conta. Temos todos uma palavra a dizer.

É por tudo isto que, nas eleições de 10 de março, todas as forças políticas deveriam exortar os portugueses a recuperar a ambição coletiva. Deveriam também apresentar projetos políticos exigentes que permitam a todos enfrentar o futuro com generosidade e coragem, sem impedimentos nem receios, na certeza de que não caminharão sozinhos, tendo sempre a ação protetora e solidária do Estado – mas sem criar com o mesmíssimo Estado os tais laços de dependência que fazem com que o medo se mantenha como a camisa de forças que prende a nossa ação.