por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 12.08.2023

As Jornadas Mundiais da Juventude foram um enorme desafio para Portugal. O objetivo foi inteiramente cumprido. Ao longo da semana, Lisboa pareceu estar ao mesmo tempo cheia e deserta. Quase demasiado pequena para acolher os jovens vindos de todo o mundo que passearam pelas suas ruas em grupos de tamanhos variados. Mas a cidade também parecia um pouco abandonada pelos seus moradores – afinal, os lisboetas estavam de férias, como é habitual nos primeiros 15 dias de agosto. (Revelou-se oportuna a iniciativa da CIP de incentivar o teletrabalho durante este período.)

Os jovens que estiveram nas JMJ de Lisboa não são uma espécie rara, nem nostálgicos de um passado fantasiado. São o retrato da sua geração. Partilham as mesmas angústias e incertezas do que tantos outros pelo mundo fora. Temem que o seu futuro seja pior do que o presente. Sentem-se inquietos, procuram respostas para a multiplicidade de desafios que enfrentam e se multiplicam.

É impressionante ver até que ponto a covid-19 afetou estes grupos etários. Sentem-se – na verdade, sentimo-nos todos – mais vulneráveis. As alterações climáticas acrescentam indefinição e impotência. Para os peregrinos da Europa de Leste há ainda outro terrível peso sobre os ombros: a experiência traumática de uma guerra à porta de casa ou mesmo dentro de casa. Não ficou nada no mesmo sítio. Acresce que os jovens que estiveram em Lisboa têm uma fé que parece ser cada vez menos partilhada, talvez até ridicularizada, por quem os rodeia.

Será que estamos a prestar atenção suficiente ao que estes jovens estão a passar e a dar-lhes o lugar que lhes compete neste mundo complexo? O Papa Francisco está consciente das suas preocupações: “Neste momento histórico, os desafios são enormes e os gemidos dolorosos, mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início”, disse na visita à Universidade Católica de Lisboa. “Por isso, sede protagonistas de uma nova coreografia que coloque no centro a pessoa humana”. E continuou com esta bela ideia: “Sede coreógrafos da dança da vida!”. Uma forma de perceber também o poder da alegria que emergiu, naqueles cinco dias, desta multidão animada, jovem e colorida.

Igualmente cheias de sabedoria foram as palavras da reitora da Universidade Católica. ” A universidade – disse – não existe para se preservar como instituição, mas para responder com coragem aos desafios do presente e do futuro”. Acrescentou o Papa: “A autopreservação é uma tentação, é um reflexo condicionado pelo medo, que nos faz olhar para a existência de forma distorcida. Se as sementes se preservassem a si mesmas, desperdiçariam completamente a sua força geradora e condenar-nos-iam à fome; se os invernos se preservassem a si mesmos, não existiria a maravilha da primavera. Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: substituí os medos pelos sonhos, não sejais administradores de medos, mas empreendedores.”

Não é possível que as novas gerações vivam pior do que as anteriores. Não é aceitável que tenham menos segurança, mais intranquilidade. Menos futuro. As novas gerações não podem aceitar que as suas vidas sejam mais pequenas do que as nossas. À dimensão espiritual referida pelo Papa junta-se uma outra que devo forçosamente referir: o emagrecimento das perspetivas económicas. Se nada for feito, as novas gerações vão pagar mais impostos – para sustentar o envelhecimento da população -, vão receber menos em troca e terão acesso a piores cuidados de saúde públicos. Vão também sair de casa dos pais cada vez mais tarde e terão casa própria numa fase tardia, pagando muito mais caro por menos espaço. Isto é inaceitável – cabe a nós todos mudar esta corrida para o fundo.