por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 22.07.2023

A Nação é uma comunidade humana definida por características comuns, objetivas ou subjetivas. As objetivas são a língua, a religião, as origens e as referências culturais e históricas; as subjetivas definem-se pelo desejo de “viver em conjunto”, tal como definido por Ernest Renan em “O que é uma Nação?”. Quanto ao Estado, é uma entidade política com um território delimitado por fronteiras, população e poder institucionalizado. O Estado é, portanto, o detentor da soberania e, nesse sentido, personifica juridicamente a Nação.

Apesar da sua importância, a discussão sobre o Estado da Nação tem-se convertido num momento de fraco significado, um simples ritual da política partidária que permite a atribuição de notas técnicas e artísticas aos tribunos envolvidos – alguns deles realmente muito bons -, em vez de esse momento implicar o prestar de contas objetivas sobre as opções escolhidas e as decisões tomadas, a apresentação de uma visão global da política do governo e, obviamente, a partilha de informação sobre os compromissos futuros. As pessoas, entre eles os agentes económicos, gostariam de participar e serem envolvidos num momento assim. Não é isto que significa viver numa democracia plena?

Quanto ao futuro, há uma pergunta que me tenho posto nos últimos dias: este momento parlamentar tem como objetivo o assumir de compromissos concretos ou serve apenas como cenário para anúncios vagos, quase etéreos, que dificilmente ganham vida própria e geram alguma coisa de real? Aqui está outro exercício feito por todos os governos de que tenho memória: os compromissos concretos, devidamente quantificados, são atirados para o ar através de uma sucessão de anúncios que engordam as notícias e deixam tudo o resto, todos nós, de barriga vazia. Esta inversão de prioridades deixa aos comentadores o papel de avaliar – conforme a formação e a tendência ideológica de cada um – se as ideias são realistas ou se não têm hipóteses de sair do plano teórico.

Naturalmente, cada país tem o seu formato, o nosso é este, mas estou convencido de que, tal como uma empresa tem de procurar melhorar a sua oferta e produto, também a política deveria dar passos em frente nos seus rituais de modo a responder melhor às inquietações dos eleitores. A retórica e o teatro político também são importantes, mas não podem esgotar o repertório, caso contrário destaca-se sempre o político de voz mais tonitruante e dedo em riste.

A avaliação do estado do Estado não traduz, portanto, o estado da Nação que somos e queremos ser. Não traduz a vida dos portugueses. Não reflete a dinâmica das empresas e dos trabalhadores. Não conta quem somos. Pior ainda: não muda quase nada. A política parlamentar é um exercício demasiado importante para que deixemos que seja apenas o que vimos esta semana. É costume dizer-se que a guerra não deve ser deixada apenas aos generais. Os portugueses não podem deixar a política apenas na mão dos interesses partidários.