Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 11.11.2017

“Na abertura da Web Summit, esta segunda-feira, António Guterres afirmou que «temos de evitar a reação estúpida de tentar parar a inovação. Isso é estúpido porque é impossível».

De facto, sempre que surgem alterações tecnológicas mais bruscas e profundas, surgem também medos e ameaças associados a perturbações nos modelos de negócio e nos mercados.

Mas a História também nos ensina que combater a inevitabilidade do progresso tecnológico não é caminho sensato a seguir.

Uma primeira reação diz-nos que a transformação digital pode representar o risco de maior desemprego e desigualdades sociais. De facto, muitas profissões e funções tornar-se-ão dispensáveis ou obsoletas.

Mas não são poucos os estudos que nos indicam que a destruição de postos de trabalho na produção poderão ser mais que compensados pela criação de emprego noutras áreas, com um nível de exigência superior em termos de conhecimentos e competências.

Por isso, temos de encarar a inevitabilidade da mudança, capacitando as empresas e os trabalhadores para a antecipar, minimizando os riscos e potenciando as vantagens.

Em Portugal, temos trunfos importantes para enfrentar os desafios e explorar as oportunidades que decorrem da atual onda de inovação, bem patente nesta segunda edição Web Summit de Lisboa: temos, culturalmente, a grande vantagem da nossa abertura e adaptabilidade a novas realidades; temos boas infraestruturas; temos um poder político sensibilizado para os desafios que se apresentam; e temos, sobretudo, muitas empresas abertas às oportunidades que surgem em resultado destes novos desenvolvimentos e que estão já a aproveitar essas oportunidades.

Os relatórios da Comissão Europeia sobre inovação contrariam o preconceito de uma menor predisposição das empresas portuguesas para inovar.

A par destes trunfos, temos, por outro lado, handicaps que é preciso ultrapassar: porque o investimento é indispensável à incorporação de inovação nos produtos e nos processos, falta-nos vencer os obstáculos que persistem, sobretudo em termos de acesso ao financiamento, para capacitar as empresas para os investimentos que este desafio implica. E falta-nos também capacitar profissionais que respondam às necessidades das empresas.

Mais do que formar trabalhadores para as profissões atuais, que poderão vir a desaparecer, temos de lhes fornecer um conjunto de competências que lhes garantam a empregabilidade ao longo da sua vida ativa.

Como disse também António Guterres, «não é aprender a fazer coisas, mas sim aprender a aprender, porque as coisas que fazemos hoje não são as coisas que faremos amanhã».”