por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 26.03.2022
Com sentido de urgência e impaciência crescentes, continuamos à espera de medidas que respondam com a força e a eficácia necessárias ao aumento de custos, sobretudo energéticos, que ameaçam as empresas e a economia em geral.
Esta impaciência aumenta à medida que, em cada vez mais empresas, a produção se torna inviável, seja por aumentos de custos seja por falta de fornecimentos seja ainda pelo cancelamento de encomendas.
A sobrevivência das empresas é a minha principal preocupação e, como afirmei exatamente há dois anos, no início da crise pandémica, só salvando as empresas será possível preservar o emprego. Contudo, há outra razão de fundo que apela a uma ação forte, decisiva e urgente, por parte dos decisores políticos, tanto a nível nacional como europeu. É preciso conter, tanto quanto possível, a emergência de uma espiral inflacionista que tornaria esta crise mais profunda e mais duradoura.
A Comissão Europeia apresentou nesta semana uma comunicação, em que analisa um leque de opções, abrangendo intervenções de emergência, imediatas e temporárias, para limitar o aumento dos preços da energia. Como a própria Comissão conclui, nenhum delas é uma “bala de prata” e todas comportam vantagens e inconvenientes. Quase todas acarretam custos orçamentais. No entanto, a Comissão afirma que “o que é urgentemente necessário é conter o aumento dos preços da energia”.
A importância de uma resposta ao nível orçamental está refletida nas recentes projeções da OCDE, que estimam que o impacto da guerra na economia da área do euro se elevaria, neste ano, a 1,4 p.p. do PIB, podendo ser reduzido para 0,92 p.p. por uma resposta orçamental bem direcionada.
Esta resposta é tanto mais urgente quanto a política monetária é impotente para contrariar eficazmente um choque que vem do lado da oferta. Tal já foi pedagogicamente explicado pela presidente Lagarde. No entanto, caso não seja possível conter uma espiral de inflação que alastre dos preços para os salários, assumindo uma natureza estrutural, o Banco Central Europeu, no cumprimento do seu mandato, ver-se-á na inevitabilidade de aumentar significativamente as taxas de juro, induzindo um movimento recessivo.
É esse alastramento da crise, que redundaria num regresso da estagflação – elevada inflação e estagnação económica com desemprego a acompanhar – que há que evitar a todo o custo.
Para isso, são necessárias medidas que contenham a subida dos preços, ainda que pesem sobre as finanças públicas.
Evidentemente que tais medidas não são isentas de custos para o futuro, sobretudo num país como Portugal, que suporta uma das mais elevadas dívidas públicas da Europa. Por isso se justifica uma ação ao nível da União Europeia, numa abordagem comum, tirando partido da sua força conjunta. Não vislumbro, no entanto, alternativas que acautelem melhor os riscos que pesam sobre a economia.
Não há soluções perfeitas. Há soluções possíveis, que tardam, enquanto os riscos se vão avolumando e tornando realidade.