por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 14.10.2023

Podemos sempre escolher a resignação. Aceitar o que nos calha em sorte, aplaudir o pouco que nos põem à frente e encolher os ombros ao lento caminho da inevitável mudança. Ou então fazemos o contrário; fazemos como os Lobos, a seleção nacional de râguebi, que cerrou os dentes e foi à luta, enfrentou os desafios e deu uma poderosa demonstração de caráter e perseverança que já está a dar frutos e, estou certo, dará muitos mais nos próximos anos. Os Lobos tinham pela frente gigantes, a resposta foi a única possível: superaram-se.

A economia não é um jogo de râguebi, mas o desporto sempre foi terreno fértil para histórias que nos mobilizam a todos e que nos ajudam a dar uma forte machadada no torpor individual e coletivo. Nestes dias de apresentação do Orçamento do Estado para 2024, o que mais me perturbou foi a (quase) passividade com que alguns aceitam as explicações e decisões que nos empurram para um futuro cada vez mais difícil e desigual. O Produto Interno Bruto vai crescer apenas 1,5 por cento em 2024, um valor pífio que põe a nu as nossas terríveis dificuldades económicas, financeiras e sociais.

Dizem-nos que vamos crescer umas décimas acima da Zona Euro, como se essa microscópica consolação ajudasse Portugal a reduzir decisivamente o fosso que nos separa desses mesmos países. Estamos há tempo demais embrulhados em decisões com falta de ambição e estratégia que pouco ou nada mudam de essencial na forma como nos organizamos e nos queremos posicionar no mundo. Nunca agimos, escolhemos sempre reagir – tardiamente.

A CIP – Confederação Empresarial de Portugal não baixa os braços, não desiste, não renuncia à responsabilidade que exerce em nome de mais de 150 mil empresas que empregam mais de 1,8 milhões de pessoas. Não fazemos política partidária, não fazemos demagogia, não fazemos finca-pé. Mas também não podemos fazer de conta que está tudo bem e até a melhorar. Não está. Este Orçamento do Estado volta a carregar nos impostos indiretos – como é possível? – e não resolve nada de verdadeiramente estrutural na relação com os trabalhadores e as empresas. A competitividade, seja ela medida pela produtividade dos fatores de produção ou pela produtividade do trabalho, continua a decrescer
E a afastar-nos da média europeia.

O esforço de compromisso que fizemos nestes últimos meses vai, por isso, manter a mesma determinação. Não acreditamos que os novos problemas que enfrentamos se resolvam com as receitas antigas, mais ainda quando elas já mostraram que estão longe de produzir os resultados necessários. A economia está anémica, o ano que se aproxima será de forte arrefecimento económico e abaixo do potencial de crescimento. Ultrapassar estes obstáculos exigirá esforço coletivo e disponibilidade para encontrarmos em conjunto as soluções mais adequadas. Os empresários e as empresas reiteram esta disponibilidade para contribuir para um Portugal mais próspero, mais exigente e menos desigual. Temos de nos superar – a nossa seleção de râguebi mostrou-nos como se faz.