por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 24.02.2024

Foi uma semana em cheio. A CIP organizou um grande congresso com um objetivo claro: aprofundar o debate nacional sobre as escolhas que Portugal tem de fazer para crescer mais e interromper de vez o ciclo de empobrecimento relativo. Este dia e meio de apresentações, debates e entrevistas levou ao Porto empresários, gestores e investigadores. Juntaram-se também a nós os líderes políticos do PS, PSD e da IL, embora tenhamos convidado todos os partidos com assento parlamentar. O mote era explícito: “Pacto Social. Mais Economia para Todos.”

Nesta atmosfera de abertura e exigência, fizemos o retrato do país tal como ele é, sem populismos e sem eleitoralismos. Procurámos dar profundidade aos assuntos e aos problemas. Estou convencido que o fortalecimento do nosso país exige esta capacidade para nos olharmos ao espelho com objetividade e abertura, mas também vontade para procurarmos o que nos une.

Os portugueses querem uma vida melhor. Querem melhores salários. Querem mais oportunidades – não querem ver os filhos emigrar por necessidade. Os portugueses querem menos dificuldades e menos burocracia. Menos carimbos e muito menos papelada para tudo e para nada. Os portugueses querem ter mais confiança – mais confiança uns nos outros, mais confiança no Estado, mais confiança num futuro que se apresenta cada vez mais incerto. Este contexto difícil tem uma só virtude: apela aos nossos melhores instintos.

Os entraves que temos de derrubar estão à vista de todos. A produtividade de Portugal está entre as mais baixas da União Europeia. Na verdade, até divergimos da média europeia ao longo da última década. Neste congresso, constatámos ainda que os baixos salários e a falta de competitividade fiscal tornam o nosso país num dos últimos quanto à retenção e atração de talento. Entre 2021 e 2022 caímos seis posições no ranking do Institute for Management Development – estamos apenas em 42.º lugar -, e crescemos apenas um terço face aos países com quem concorremos na UE. Pior do que isso: divergimos no PIB per capita, medido em paridade de poder de compra, o que prejudica a evolução das remunerações.

Avanço apenas mais alguns números. Como é público, em 2022 saíram de Portugal 31 mil pessoas, mas já chegámos a perder mais de 50 mil num só ano. Grande parte são licenciados que fazem muita falta às empresas e a Portugal. O paradoxo é evidente. Em 2020, ultrapassámos a média europeia de jovens entre os 20 e os 24 anos que têm, pelo menos, o ensino secundário completo; já somos o sétimo país da UE com maior proporção de jovens entre os 20 e os 24 anos com ensino superior (19%) – uma percentagem acima da média europeia. Como se vê, temos feito um caminho extraordinário na educação, mas a nossa economia não está ao nível deste salto. Este desperdício tem de acabar – mas isso só acontecerá se assumirmos coletivamente este desígnio nacional.

Há uns anos foi publicado um livro nos Estados Unidos sobre o presidente Abraham Lincoln. O livro chama-se “Equipas de Rivais” e, muito resumidamente, mostra-nos como um decisor político juntou na mesma equipa – e com a mesma missão – aqueles que eram os seus adversários partidários. Portugal precisa de fazer o mesmo, dentro e fora dos partidos. Como Nação, temos de ser capazes de nos juntar à volta de um ambicioso Pacto Social realmente capaz de construir mais economia para todos.