por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 23.09.2023

Houve um momento da nossa história recente em que tomávamos o pulso aos juros da dívida pública várias vezes ao dia – obsessivamente. O preço do dinheiro escalara para níveis extremos, os mercados estavam fechados para Portugal e não nos restava alternativa senão acompanhar as pequenas oscilações dos gráficos na ânsia de vermos finalmente a luz ao fundo do túnel. Isto foi há poucos anos, entre 2011 e 2014, como todos se lembram. Hoje, a história da nossa vulnerabilidade económica tem outro sinal, embora mais comum ao mundo ocidental – os indicadores da inflação são lidos e interpretados, mês a mês e décima e décima, por todos: por quem sabe do assunto, mas também por quem apenas tenta adivinhar o seu significado, tirando daí conclusões certeiras ou, tantas vezes, esdrúxulas.

Este debate tem um lado positivo: ajuda o país a familiarizar-se um pouco mais com a economia e a compreender parte dos seus mecanismos. No entanto, há um ponto que me salta à vista e, de certa forma, até impressiona. O tempo que passamos a discutir a inflação – se está a cair, se vai subir, se já parou de subir, se algum dia baixará – contrasta brutalmente com o tempo que dedicamos a pensar nas soluções que devemos pôr em prática para, por um lado, reduzir a destruição provocada pela inflação, mas também para encontrarmos as soluções capazes de robustecer de vez o país, de forma a que esta e outras tempestades globais nos afetem de forma cada vez menos aguda e dramática.

A pobreza e a pobreza extrema em Portugal, mas também a fragilidade evidente da classe média, exigem a todos nós uma discussão profunda sobre as nossas escolhas coletivas e as políticas públicas que as definem. Temos de encontrar uma forma que nos permita não sucumbir – sempre e inevitavelmente – perante todas as urgências do momento.

A CIP assume esta responsabilidade. Como se tornou público esta semana, o Pacto Social que preparámos ao longo dos últimos meses entrou na fase de discussão concreta com o Governo. O nosso objetivo é claro e assumido: melhorar a vida dos portugueses através da aprovação de um conjunto de medidas, propostas por nós, que deverão entrar já no próximo Orçamento do Estado, mas também nos exercícios seguintes.

Move-nos – a nós, empresas e empresários – a determinação de aumentarmos já o rendimento líquido de todas as pessoas: mais dinheiro no bolso dos portugueses e não nos cofres do Estado. É possível? Certamente que sim, sem que isso comprometa em nada o fundamental equilíbrio das contas públicas. Move-nos também a vontade de ajudar a construir um genuíno desígnio nacional materializado num grupo de reformas que beneficiem o acesso de qualidade à saúde, educação e habitação, ao próprio Estado, mas que também se revele capaz de transformar para melhor outras áreas-chave da nossa vida coletiva. É tempo de agir.