por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 19.11.2022

 

Tenho insistido em três objetivos a cumprir para que as empresas portuguesas melhorem a sua capacidade competitiva: maior dimensão empresarial; mais inovação, contribuindo para a dupla transição digital e ecológica; reforço da internacionalização.

Abordei aqui, no sábado passado, a questão da dimensão, ligando-a precisamente aos dois outros objetivos.

Se a importância da inovação é incontroversa e está presente – pelo menos no plano das intenções – como elemento incontornável de todas as políticas dirigidas às empresas, a internacionalização merece também particular atenção, sobretudo no atual contexto económico mundial.

É certo que pandemia e a guerra geraram um importante alerta para as excessivas dependências criadas pela globalização. Há, agora, uma nova perceção e interiorização dos riscos dessas dependências em relação a determinados mercados. A excessiva rigidez que estava a caracterizar muitas cadeias de valor está a ser reapreciada pelos seus diferentes elos. No entanto, o relançamento industrial, que deve estar no centro da recuperação económica, precisa de mercados externos abertos e dinâmicos, onde as empresas possam provar o seu dinamismo e as suas vantagens competitivas.

Nesse sentido, ao mesmo tempo que se fala na necessidade da autonomia estratégica aberta da Europa e de reduzir a exposição a parceiros imprevisíveis, dá-se também uma importância acrescida a parcerias internacionais diversificadas.

A diversificação de mercados ganha, neste contexto, uma renovada relevância, sem prejuízo das restantes vertentes de qualquer estratégia coerente de internacionalização: o aumento da capacidade de oferta, a diferenciação e valorização dos bens e serviços exportados, a capacitação de mais empresas para a internacionalização, a integração em cadeias de valor globais.

Participei, esta semana, no V Fórum Ibero-Americano das Micro, Pequenas e Médias Empresas. Tive oportunidade defender que há todas as condições para desenvolver parcerias estratégicas entre Portugal e a América Latina, focadas nos grandes desafios globais, nas oportunidades que os mercados desta região oferecem às empresas portuguesas e nas vantagens da Península Ibérica como porta europeia para as empresas latino-americanas.

Defendi, igualmente, que tendo em conta o panorama geopolítico atual, a Europa deve apostar em acordos comerciais bilaterais com parceiros fiáveis, como forma de impulsionar o comércio internacional e reagir ao protecionismo. Destaquei, neste âmbito, a importância de não desistir da ratificação do acordo com o Mercosul.

O valor das exportações portuguesas para a América Latina é ainda limitado, tendo em conta a dimensão desta região: cerca de 1500 milhões de euros (2,5% do total das exportações portuguesas), com o Brasil a absorver quase metade deste valor. Podemos olhar para estes números de duas formas: desvalorizando a importância destes mercados ou olhando-os como um potencial a desenvolver. A minha visão é claramente a segunda.