por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 30.07.2022

Como aprendemos na escola, a produção e contínua renovação da água existente no Planeta, depende do ciclo da água: evaporação, condensação e precipitação. O regular funcionamento deste ciclo, é fundamental para a biosfera.
As alterações climáticas, em conjunto com décadas de má utilização por parte do Homem, produziram violentas alterações no funcionamento deste ciclo.

Todos os estudos atuais mostram que as temperaturas estão a aumentar, os padrões de pluviosidade estão a mudar, os glaciares estão a derreter e o nível médio do mar a aumentar, sendo que a maior parte deste aquecimento se deve ao constatado aumento de gases com efeito de estufa.

E as projeções para as próximas décadas mostram que este cenário se irá agravar significativamente. Portugal encontra-se entre os países europeus com maior vulnerabilidade a estas alterações. Prevê-se, em concreto, que o nosso País venha a ter desertificação, ondas de calor, secas e fogos florestais ainda piores que os já conhecidos, com impactos diretos e imediatos na agricultura, na pesca e no turismo.

Acresce que a maior parte da nossa água de superfície vem de Espanha, que está por sua vez igualmente confrontada com problemas semelhantes aos nossos, em termos de alterações climáticas.

Face a este quadro de preocupações, facilmente concluímos que, sem prejuízo, naturalmente, do objetivo do combate às alterações climáticas, precisamos avançar rapidamente com soluções para a adaptação ao seu inevitável impacto numa grande diversidade de domínios.

Se é verdade que o ciclo da água não está a funcionar, então temos que encontrar formas alternativas de produzir água: precisamos de produzir nova água.

Felizmente, temos hoje uma tecnologia que apresenta a capacidade, a maturidade e a estabilidade para o poder fazer: a dessalinização.

Existem hoje a funcionar no Mundo, mais de 20 000 fábricas de dessalinização, muitas delas já recorrendo a osmose inversa, o que permitiu reduzir as necessidades de consumo de energia deste processo. Podemos, além disso, alimentar estas fábricas com energias renováveis.

Estas centrais dessalinizadoras eram originalmente construídas em países com quase ausência de recursos hídricos, nomeadamente no Médio Oriente, Norte de África e Austrália. Hoje, estão um pouco por toda a parte, sendo a nossa vizinha Espanha um caso de particular sucesso.

A minha visão para Portugal é a de um País com água abundante: não dependente de terceiros na produção, e gestão deste tão importante recurso. Imagino os impactos que a assunção deste desígnio poderia ter em todos os setores de atividade, do litoral ao interior, de norte a sul, aumentando a resiliência do território, em termos ambientais, económicos e sociais. Seria, também, fundamental para a segurança do abastecimento de água, e para a atração de investimento externo em diferentes setores, como a indústria, o turismo, o agroalimentar ou o energético. Reduziria a desertificação e o abandono das terras.

Consigo imaginar assim este País! E sei que é um sonho possível, havendo vontade e visão daqueles a quem entregámos a missão de gerir o nosso destino coletivo.