por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 10.04.2021

Este é mais um dos temas inovadores da inevitável transição energética e, como sempre sucede, tem entusiastas e, também, críticos acérrimos.

Não entrarei nesse campo, uma vez que o hidrogénio, sendo um dos vetores apontados nas prioridades europeias como estratégico, me parece uma questão incontornável.

Este é um facto, qualquer que seja a opinião de cada um.

Tivemos ocasião de, na devida altura, quando da consulta pública sobre a EN-H2 (Estratégia Nacional para o Hidrogénio), exprimir a nossa convicção de que o hidrogénio verde será indispensável como matéria-prima para o setor químico poder produzir bens essenciais de modo mais sustentável.

Fomos também, e isso é compreensível, mais prudentes quanto a outras utilizações.

Mas prudência não deve ser entendida como oposição ou imobilismo e, aí, consideramos que a onda atual de iniciativas e de projetos é prova cabal da vitalidade da nossa indústria, será essencial à continuidade de muitas empresas e ao nascimento de novas iniciativas que, necessariamente, renovarão o nosso tecido económico.

Acreditamos que o futuro sustentável irá recorrer a todas as tecnologias; estreitar o leque de opções não é solução, até porque reforça dependências, tornando-as inaceitáveis.

Este é o caso da continuidade do sistema de gás natural que hoje alimenta e garante 75% das necessidades da economia em combustíveis, muitas das quais não são substituíveis por outras formas de energia, designadamente eletricidade.

Mas este sistema de gás, para ser mais sustentável, requer que exista disponibilidade de gases renováveis, seja biometano, seja, até, hidrogénio verde.

O País necessita de um sistema de gás robusto e, portanto, as iniciativas empresariais para a sua descarbonização são oportunas e, para já, necessárias.

No que respeita ao hidrogénio, o grau real de compromisso do Governo nesta matéria está bem expresso na recente proposta de Plano de Recuperação e Resiliência; sobre o hidrogénio, o PRR reserva um pouco menos de 400 M€, ou seja, menos de 3% do montante total do programa, e para projetos de caráter preferencialmente local.

O primado das iniciativas empresariais, em articulação com as oportunidades de financiamento que agora se abrem, deverá ser a regra, sendo de evitar a proliferação de novos encargos, mesmo que indiretos, sobre os consumidores.

A evolução deve ser incremental para ser suportável em termos económicos, e as grandes iniciativas terão de ser suportadas por tecnologias suficientemente seguras e comprovadas.

Os projetos-piloto, em todas as áreas, desde a utilização como matéria‑prima, à produção de combustíveis e, também, ao futuro dos transportes, deverão ser avaliados e, tendo potencial, deverão ser apoiados, não só na sua génese, mas também nos resultados e na possível continuidade da sua aplicação.

O hidrogénio não será forçosamente, nem um sonho, nem uma moda; terá, como todas as opções, o seu lugar após a cruel seleção dos projetos e tipos de utilização que ultrapassarem os testes da realidade no terreno.