por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 27.04.2024

A CIP – Confederação Empresarial de Portugal é filha da revolução. Nascemos há precisamente 50 anos – escassas semanas após o 25 de abril – filhos da sociedade civil que começou logo a organizar-se para responder às novas ambições individuais e coletivas que a liberdade finalmente permitia, desejava e estimulava. Até esse dia, mesmo na área empresarial, éramos um país amorfo, analfabeto, paroquial, sem visão do mundo, castrado no pensamento e na vontade por um regime caduco. Num só dia, em apenas 24 horas, as velhas amarras soltaram-se e as comportas abriram-se. A livre iniciativa privada – até então não era empresário quem queria -, apesar das dificuldades, deu logo um passo em frente com a criação da CIP.

Evoluímos muito nestes anos, fizemos um caminho importante que tem de ser valorizado; valorizado apesar dos problemas que existem, uns antigos, outros novos, vários deles estruturais, que nos impedem de concretizar o nosso potencial. É nisso que me quero concentrar aqui – o passado e a história devem ser celebrados, a sua importância tem de ser reconhecida e sublinhada, como milhares e milhares de pessoas, de todos os quadrantes políticos, da Esquerda à Direita, fizeram na quinta-feira pelo país inteiro. Penso, no entanto, que é preciso mais para honrar e continuar Abril de 74 e Novembro de 75. Temos de dar expressão concreta a esta energia coletiva e ao poderoso sinal que ela nos transmite. As pessoas querem viver melhor, querem um país com mais oportunidades, menos desigualdade, um país menos vulnerável, mais competitivo, mais solidário e com mais futuro.

Os portugueses têm hoje sonhos e ambições maiores, os nossos horizontes abriram-se, as expectativas cresceram. Na economia, a concorrência global também se intensificou, o que significa que a nossa afirmação no mundo enfrenta novos obstáculos, exige mais de nós. O desafio da qualificação dos portugueses, incluindo naturalmente empresários e gestores, continua a ser um investimento fundamental e permanente, e oferece-nos uma robusta base de crescimento. O potencial humano, o talento e as competências que desenvolvemos ao longo destes anos são obviamente a base que nos permite pensar maior, com escala, tornando possível a concretização das ambições de cada um de nós, homens e mulheres, mais novos e mais velhos.

A nossa democracia tem fragilidades e problemas, sim, mas é seguramente o melhor dos sistemas. Dito isto, compete a cada um de nós concretizar e avançar com ideias que tragam soluções objetivas. Desistir não é opção. Aos decisores políticos compete construir o contexto mais adequado, não sobrecarregar as pessoas e as empresas de impostos, obrigações e burocracias inúteis. Sim, a desconfiança é hoje um dos maiores problemas da nossa sociedade. O Estado desconfia de todos. As pessoas desconfiam do Estado. Representantes de empregadores e representantes de trabalhadores, os Parceiros Sociais (reparem bem, parceiros – “entidades que estão em parceria com outras para atingir o mesmo objetivo”, in Dicionário Priberam) hesitam em cooperar por desconfiança estratégica quanto aos objetivos de cada um.

As instituições estão fragilizadas. As relações estão demasiadas vezes minadas por este excessivo ambiente de ceticismo e suspeita. A celebração nacional do cinquentenário do início da revolução deve-nos convidar a mudar esta cultura da descrença e tem de servir de impulso para que juntemos as nossas forças com os olhos postos em objetivos comuns. É este o desígnio de Portugal que está por cumprir.