por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 04.07.2020

Os resultados do relatório da Comissão Europeia sobre o desempenho em inovação – o European Innovation Scoreboard 2020 – são motivo evidente de satisfação e projetam uma imagem mais positiva de Portugal.

Apesar de estarmos ainda ligeiramente aquém da média europeia no índice global, aproximámo-nos significativamente dessa média e o relatório classifica já Portugal como “fortemente inovador”, no segundo grupo de países com um melhor desempenho, onde encontramos, por exemplo, a Alemanha ou a França.

Face à nossa posição em 2012, progredimos na generalidade dos principais indicadores (exceto no que se refere ao financiamento à inovação). O avanço foi particularmente forte em 2018, mas continuou em 2019.

É interessante verificarmos que registamos quer as melhores classificações, quer um progresso mais vigoroso, no indicador relativo à inovação empresarial: percentagem de PME com inovação de produtos/processos ou de marketing/organizacional, tratando-se, sobretudo, de inovação interna às empresas. Este resultado contraria o preconceito de uma menor predisposição das empresas portuguesas para inovar.

É de destacar também a fortíssima evolução do emprego nas empresas de elevado crescimento dos setores mais inovadores, um indicador que, de acordo com estes relatórios, “capta a capacidade de um país transformar rapidamente sua economia para responder a novas necessidades e tirar proveito da procura emergente”.

Em alguns dos indicadores, no entanto, progredimos a um ritmo inferior ao da média europeia: nos recursos humanos (particularmente no que respeita à aprendizagem ao longo da vida), e num aspeto em que estamos particularmente mal posicionados, o impacto da inovação nas vendas das empresas, mostrando a nossa fraqueza no último elo da cadeia de inovação.

Tudo isto nos incita a prosseguir, dando prioridade aos aspetos que nos farão avançar mais depressa na superação das nossas debilidades: nos recursos humanos, apostando forte na educação e na formação profissional, e no acesso ao financiamento, quer das atividades de investigação e desenvolvimento, quer do esforço de investimento necessário para que a inovação seja incorporada em bens e serviços presentes e valorizados nos mercados.

Temos boas condições em termos de infraestruturas (por exemplo, ao nível da penetração da banda larga nas empresas), temos competências, que se refletem numa boa presença em termos do número de copublicações científicas internacionais, temos empresas que querem apostar na inovação.

Precisamos de uma mais estreita ligação entre os meios científicos e empresariais, de modo a colocar os trunfos de que Portugal já dispõe ao serviço de estratégias de inovação das empresas.

Deixo, a este nível, uma proposta que faria toda a diferença na aproximação destes dois meios: valorizar, como critério de progressão nas carreiras académicas, a contribuição efetiva dos investigadores para o impacto económico da inovação, através de experiências de cooperação com as empresas.