por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 16.01.2021

Há quatro meses, ouvimos o Primeiro-ministro afirmar que o país não suportaria, as famílias não suportariam, as empresas não suportariam e individualmente cada um de nós não suportaria voltar a passar por uma situação de confinamento.

Se lembro, hoje, estas palavras, em que, aliás, me revi, não é para recusar o regresso a um confinamento justificado pela escalada de novas infeções, que fazem subir o número de mortes para níveis alarmantes e pressionam de forma insuportável o sistema de saúde.

Reconheço que a realidade abalou as nossas certezas.

Custa-me, é certo, constatar que, dez meses depois, as medidas tomadas tenham sido, praticamente, as mesmas de março do ano passado, apesar de toda a experiência acumulada desde então e de tudo o que foi feito, nomeadamente nas empresas, para assegurar maior segurança a trabalhadores e consumidores.

Sei que não é nos locais de trabalho que estão os focos de infeção – e digo-o com a mesma autoridade com que outros asseguram que as escolas não são, em si, um foco de infeção. Gostaria de ver outras medidas que não fossem tão penalizadoras da atividade económica. Pergunto-me se não se justificaria o recurso a novos instrumentos, como a generalização de testes rápidos, para a contenção da pandemia. No entanto, compreendo a inevitabilidade e a urgência de restrições severas a movimentações e contactos, cujo cumprimento deve ser acautelado com rigor, para que os sacrifícios possam ter resultados.

Se hoje recordo as palavras do Primeiro-ministro é, sobretudo, para enfatizar a dimensão daquilo que está a ser imposto às empresas e à economia em geral, o que implica um novo equilíbrio entre aquilo que se exige e aquilo que se oferece para mitigar os custos daí decorrentes. Tanto mais que muitas empresas estão a esgotar as reservas disponíveis para fazer face a um período tão alargado de quebra de receitas, apesar dos apoios disponibilizados.

Com um enquadramento europeu mais favorável e acesso a financiamento a taxas de juro próximas de zero ou mesmo negativas, o Governo está, agora, em melhores condições para agir na vertente da economia, com o objetivo de evitar uma onda de falências de empresas e a consequente escalada no desemprego.

Apelo, sobretudo, para que as medidas para conter o agravamento da crise económica sejam de aplicação tão imediata e eficaz quanto as medidas para combater a crise sanitária. Seria inadmissível repetir os atrasos e disfunções registados na primavera.

A aprendizagem já foi feita. As empresas não compreenderão eventuais atrasos.

Redobremos, pois, a nossa resistência e façamos, todos, individual e coletivamente, tudo o que estiver ao nosso alcance para que seja possível dizer, num futuro não muito distante, que o país suportou, as famílias suportaram, as empresas suportaram e cada um de nós suportou mais esta etapa do combate à pandemia.