por Sílvia Machado, Diretora Executiva de Sustentabilidade da CIP
Publicado no Expresso a 10.04.2024

Quando uma pequena empresa se depara com o desafio de apreender e cumprir as suas obrigações legais e se vê confrontada com o pedido de preenchimento de extensos questionários provenientes dos seus clientes e instituições financeiras, o stresse e a desmotivação, inevitavelmente, surgem.

Além de todas as obrigações em matéria fiscal, parafiscal, de segurança social, saúde e segurança no trabalho, ambiental, de licenciamento e reportes estatísticos, a necessidade de preenchimento destes questionários de sustentabilidade, que abordam questões ambientais, sociais e outras, que frequentemente incluem conceitos desconhecidos e uma miríade de siglas e acrónimos, leva o empresário a questionar se todo o esforço exigido irá valer a pena.

Desde logo, a questão de como reorganizar a estrutura interna para lidar com as novas exigências e capacitar os recursos com os conhecimentos necessários para compreender o que é solicitado surge como um novo desafio. Adicionalmente, compreender como medir ou contabilizar o que é solicitado torna-se imperativo. Muitas das informações solicitadas abarcam diversas áreas da estrutura da empresa, exigindo, assim, um trabalho em equipa e a colaboração de todos os envolvidos. Embora o início deste processo possa demostrar-se desafiador, é de ressaltar que podem emergir oportunidades promissoras.

Por exemplo, ao realizar a avaliação da pegada ambiental e constatar um desempenho acima da média, a empresa pode utilizar essa informação de maneira vantajosa para a sua imagem corporativa e na promoção dos seus produtos. Além disso, existe uma possibilidade concreta de identificar áreas passíveis de melhoria durante essa mesma avaliação. O cumprimento rigoroso dos requisitos legais serve para prevenir possíveis litígios e custos imprevistos, proporcionando maior segurança e previsibilidade. Caso os colaboradores se sintam mais motivados e envolvidos após o processo, é plausível esperar um aumento na produtividade. A melhoria da reputação perante instituições financeiras pode resultar em condições de crédito mais favoráveis e, passada essa imagem, ter impacto em termos de mercado.

Em última análise, o esforço despendido pode, de facto, valer a pena.

Por onde começar, então? Pelo topo. O gestor, incumbido da estrutura empresarial, deve possuir um entendimento mínimo sobre o tema em questão, a fim de facilitar o progresso rumo às metas definidas. Capacitar os colaboradores para compreender e implementar as mudanças propostas é um passo crucial, mas, mesmo que as responsabilidades sejam distribuídas entre os membros da equipe, é imprescindível que o gestor compreenda os objetivos finais de uma estratégia de sustentabilidade.

Sem essa sensibilidade por parte da liderança, será difícil alcançar uma empresa verdadeiramente sustentável – aquela que contribui para o desenvolvimento de uma sociedade justa, com um impacto ambiental mínimo e que é concebida para perdurar no tempo.


Este artigo foi desenvolvido no âmbito da iniciativa Nova SBE VOICE Leadership