A CIP – Confederação Empresarial de Portugal realizou ontem, em parceria com a Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e Cristalaria, mais um encontro empresarial para discutir os principais entraves à implementação da Economia Circular nos processos produtivos, mas também mostrar o que de melhor se faz nas empresas portuguesas no âmbito da sustentabilidade e circularidade.

A Pavigrés, empresa com cerca de 750 trabalhadores, encaminha hoje 99% dos resíduos gerados nas suas quatro unidades de produção para operações de valorização, o que reflete a crescente consciencialização ambiental assente no princípio da melhoria contínua. O combate ao desperdício é, não só sustentável, mas também uma vantagem competitiva. “A nossa abordagem passa por reduzir ao máximo o consumo de recursos, como matérias-primas, energia e água, pelo impacto nas gerações futuras, mas também pelo impacto imediato que estas ações têm nos custos de produção e na nossa competitividade”, explicou Rita Tovim, responsável pela área de Ambiente e Qualidade da Pavigrés.

Rita Tovim apontou, no entanto, a legislação e o enquadramento regulamentar como um dos principais entraves à circularidade: “É um tema com o qual nos deparamos no nosso dia a dia. Entendemos que devia haver mais confiança nas empresas, que são estranguladas com legislação normalmente extensa, difícil de interpretar, com processos extremamente burocráticos e com custos associados à sua análise e à emissão de licenças. Atualmente, até para reutilizarmos água tratada, necessitamos de ter uma licença. A simplificação seria um contributo muito positivo para a circularidade”.

Exemplo disso mesmo, é o novo Decreto-Lei que entra em vigor a 1 de julho. Marisa Almeida, Responsável da Unidade de Ambiente e Sustentabilidade do Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, reforça que “temos algumas barreiras institucionais, na legislação, nos excessos de burocracia, e que é preciso acautelar. A morosidade, as taxas na movimentação dos resíduos, os circuitos de aprovação. No dia 1 de julho entrará em vigor um novo Decreto-Lei, que tem 250 páginas, em duas colunas, portanto em páginas correntes são 400 páginas. Não são leituras fáceis e, possivelmente, isso também será um entrave”.

Atualmente, apenas 8% da economia mundial é circular. Às barreiras legislativas – também frisadas por Claúdia Santos, quadro do Departamento de Normalização do Instituto Português da Qualidade, nomeadamente ao nível do enquadramento regulamentar europeu – somam-se as barreiras técnicas.

Maria de Lurdes Antunes, Investigadora-coordenadora e Vogal do Conselho Diretivo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, destacou alguns desafios que se colocam atualmente à circularidade na atividade de construção, como a produção de produtos de elevada qualidade, com um ciclo de vida maior, mas também a necessidade de conceber peças que permitam uma demolição seletiva e a respetiva separação de resíduos com vista ao seu reaproveitamento.

A circularidade dos resíduos foi precisamente uma das apostas da Grestel, empresa com 700 trabalhadores, que tem atualmente um terço das suas unidades de produção a fabricar, exclusivamente, Ecogrés. Trata-se de uma pasta de cerâmica composta em 97% apenas por resíduos e subprodutos e que, no espaço de apenas um ano, permitiu à empresa reduzir os custos com a compra de matéria-prima em 6% – enquanto a produção cresceu 5% – e, ainda, diminuir o consumo de energia em 2,6%, em resultado das temperaturas mais baixas necessárias à cozedura deste produto.

A poupança e o reaproveitamento de recursos são também uma realidade na Roca, que tem em marcha o plano Zero Waste. A empresa, com mais de 1.000 trabalhadores em Portugal e sede em Leiria, alcançou, em 2019, uma redução de 7,7% no consumo de água, cortou as emissões de CO2 em 4,7% – com um aumento de atividade de 2,7% – e diminuiu os resíduos em 2%.

Pedro Cilínio, do IAPMEI, apresentou ainda os diferentes apoios disponíveis às empresas para a concretização de ações de Economia Circular.

Este webinar insere-se num ciclo de encontros empresariais promovido pela CIP, com o apoio da EY-Parthenon, para discutir os desafios da Economia Circular nas empresas. Em paralelo, está a decorrer um inquérito multissetorial alargado, no âmbito daquele que é o maior e mais completo estudo alguma vez feito em Portugal sobre Economia Circular.

Acompanhe toda a atividade deste Ciclo de Webinars em https://cip.org.pt/ciclo-de-webinars-empresas-mais-circulares/.
Nesta página pode assistir aos webinars que já decorreram, conhecer os programas e inscrever-se nos que ainda não se realizaram.