por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 18.12.2021

Em jeito de balanço, diria que neste ano ficou mais uma vez demonstrada a surpreendente capacidade das empresas portuguesas para enfrentar a adversidade.

Conhecemos hoje o pesado impacto da crise pandémica em 2020: uma contração do volume de negócios de 9,7% que cortou pela metade a rentabilidade das empresas (em média, já que nos setores mais afetados ela se tornou negativa). Entre março de 2020 e setembro de 2021, as empresas privadas aumentaram o seu endividamento em mais de 6,8 mil milhões de euros.

Foi nestas condições que as empresas enfrentaram, no início do ano, uma nova escalada na propagação da pandemia e o regresso ao confinamento, respondendo depois à retoma do consumo, decorrente do progressivo levantamento das restrições às atividades e da melhoria da confiança dos consumidores.

É nestas condições que as empresas estão presentemente a enfrentar os constrangimentos que se avolumam do lado da oferta, suportando uma escalada de custos de produção, além de graves problemas em abastecimentos indispensáveis à produção causados pela falta de matérias-primas e dificuldades nos transportes marítimos.

Apesar de tudo, recordo que exatamente há um ano as projeções da OCDE apontavam para um crescimento económico de apenas 1,7% em 2021. O Banco de Portugal era um pouco mais otimista, com uma previsão de 3,9%. Agora, a generalidade das previsões aponta para um crescimento de 4,8%.

Afirmei, há um ano, neste espaço, que acreditava na força das empresas para acelerar o relançamento da atividade económica e ultrapassar as previsões dos analistas. Não me enganei: a partir do segundo trimestre, a atividade económica regressou à tendência de recuperação, permitindo colmatar algum do atraso relativo que Portugal vinha a registar no regresso aos níveis de atividade anteriores à eclosão da pandemia.

É de destacar a resistência do investimento ao impacto da crise e, sobretudo, a determinação das empresas na preservação dos postos de trabalho. Como já tive oportunidade de escrever neste espaço, com menos apoios públicos, as empresas portuguesas conseguiram melhor do que a generalidade das suas congéneres europeias no que respeita à manutenção e criação de emprego.

Mesmo assim, o ano terminará com o PIB ainda abaixo do nível registado no final de 2019, ao contrário do que sucede em média na União Europeia. Só em meados do próximo ano é que Portugal deverá atingir os níveis de produção anteriores à crise.

Mas apesar de toda a adversidade, a iniciativa privada está viva, dinâmica e empenhada em participar na recuperação e transformação da economia.

Finalmente, uma palavra de reconhecimento para o inestimável contributo de todos aqueles que trabalharam na campanha de vacinação em Portugal e fizeram dela um êxito. É justo que, neste balanço do ano, não fiquem esquecidos.