por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 17.02.2024

A visita de um sindicato à sede da CIP não acontece todos os dias, tão pouco regularmente, o que na verdade é uma pena. Ganharíamos todos, o país ganharia muito, se as trocas de pontos de vista fossem mais regulares e não se limitassem às reuniões que ocorrem no âmbito da Concertação Social – certamente um espaço privilegiado para estes encontros, até porque envolve o Governo, mas que não esgota as oportunidades de contacto entre os sindicados e os restantes parceiros sociais, como é o caso da CIP.

Neste sentido, no verão do ano passado iniciámos negociações com os sindicatos e o Governo – ainda fora da Concertação Social – com um objetivo muito preciso: reforçar o nosso compromisso com o país, sublinhar a nossa abertura negocial e procurar celebrar um genuíno Pacto Social capaz de melhorar a competitividade, os salários dos trabalhadores e a vida de todos os portugueses. Como é público, a CGTP rapidamente declinou qualquer possibilidade de negociações. E no fim de várias conversas, o Governo e a UGT também não quiseram chegar a acordo connosco.

No entanto, essa vontade, esse espírito e disponibilidade mantêm-se firmes. No Congresso “Pacto Social. Mais Economia para Todos”, que a CIP realiza na terça e quarta-feira, no Porto, voltaremos a insistir na necessidade de um diálogo sério, efetivo e transparente entre todas as partes. Será que é desta? O início de um novo ciclo político abre claramente esta possibilidade e é isso que nos esforçaremos que aconteça.

Tal como escrevi no início deste texto, os sindicatos infelizmente raramente nos visitam, mas foi o que aconteceu ontem. A CGTP e a sua líder decidiram manifestar-se à porta da CIP. Eis o que diz o comunicado que emitiram: “Será uma expressão nítida da luta de classes: trabalhadores na rua a reivindicar aumentos salariais e patrões dentro da sede de uma associação patronal a contabilizarem os seus lucros.”

O que ocorreu na realidade? Eu e o diretor-geral da CIP fomos ao encontro de Isabel Camarinha e da sua delegação. Convidámo-los reiteradamente a subir. E ficámos à espera. Subiram? Não. Ou melhor, subiu apenas uma parte da delegação, mas sem a líder da CGTP. Foram obviamente recebidos, claro, embora não pelo presidente da CIP. A questão que se coloca é muito clara: por que não subiu Isabel Camarinha? Certamente por vontade própria, mas os factos contrariam então a ideia de que “os trabalhadores estão na rua a reivindicar” e “os patrões a contabilizar os lucros fechados numa sala”.

Não estamos todos já muito cansados desta falsa dicotomia? Há seguramente alguns interesses divergentes entre empresas e trabalhadores, mas também haverá muitos pontos em comum – e é preciso começar por algum lado em benefício do nosso presente e futuro coletivo.

É preciso confiança, disponibilidade e compromisso. Bem sei que as eleições de 10 de março estimulam alguma, digamos, demagogia. Mas cavar trincheiras virtuais, coreografando-as apenas para efeitos mediáticos, é um enorme desperdício de energia. É sobretudo uma oportunidade perdida. Mantenho-me onde sempre estive: disponível para falar, refletir e negociar. Salários, produtividade, crescimento. O Pacto Social é isto mesmo.