por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 02.01.2021

Há exatamente um ano, a propósito das perspetivas que então se traçavam para 2020, alertava, neste mesmo espaço, para o enquadramento adverso com que as empresas teriam de confrontar os grandes desafios de fundo que se lhes colocavam: os desafios da transformação digital e tecnológica, dos mercados globais, do endividamento, da sustentabilidade ambiental, da demografia.

Estava longe de imaginar o que se avizinhava. Contudo, nenhum destes desafios que então identifiquei desapareceu. Terão de ser reequacionados à luz de uma nova realidade. Alguns assumem, agora, uma nova acuidade.

Se o desafio da inovação e da transformação digital e tecnológica impunha já a necessidade de requalificação ou mesmo reconversão profissional no cenário pré-Covid19, agora, torna-se ainda mais urgente. A pandemia vem acelerar um processo de transformação de competências que já se vinha a desenhar. Para além de gerar desemprego, esta crise está a sedimentar ainda mais a omnipresença de novas tecnologias na forma como trabalhamos.

O desafio dos mercados globais também se mantém. A excessiva rigidez que estava a caracterizar muitas cadeias de valor será reapreciada pelos seus diferentes elos. Mas o relançamento industrial, que deverá estar no centro da recuperação económica, precisa de mercados externos abertos e dinâmicos, onde as empresas possam provar o seu dinamismo e as suas vantagens competitivas.

Se o endividamento, era já, no rescaldo da crise anterior, um forte constrangimento a um relançamento do investimento, o seu agravamento, decorrente do recurso a muitas das medidas que foram concebidas, colocará as empresas numa posição ainda mais fragilizada no momento exigente da recuperação. São, por isso necessárias medidas que favoreçam, desde já, o reforço de capitais das empresas.

Vai ser necessário que não se perca o foco nos imperativos do desenvolvimento sustentável, designadamente os da transição energética e da economia circular. Novos equilíbrios vão ser necessários, a par de um forte pilar económico, para conciliar sustentabilidade ambiental e competitividade empresarial.

As tendências demográficas continuarão a exercer, num horizonte temporal alargado, um impacto profundo no crescimento económico, no mercado de trabalho, nos sistemas de saúde e de segurança social, trazendo ameaças, mas também oportunidades, por exemplo em termos da inovação tecnológica e do desenvolvimento das ciências da vida, bem como ao nível dos mercados que se geram com novos produtos e serviços.

Para que possam fazer face a todos estes desafios, é necessário que os recursos de que vamos dispor, já a partir deste novo ano de 2021, sejam utilizados com o objetivo de robustecer as empresas, ultrapassando as debilidades exacerbadas pela crise.

Não basta que as empresas sobrevivam, é preciso que mantenham a sua solidez e a sua capacidade para que possam sustentar, em bases sólidas, a recuperação do país.