por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 11.02.2023
A data quase passou desapercebida: completaram-se três anos desde que o Reino Unido saiu da União Europeia. Dirão que, com tudo o que aconteceu, entretanto, o Brexit foi apenas um pequeno percalço na vida das empresas.
Interessa, no entanto, perceber as consequências de uma decisão que, tendo sido fundamentalmente política, teve profundas implicações económicas.
Comecemos pelas trocas comerciais com Portugal: as exportações portuguesas para o mercado britânico passaram de 6,1% do total, em 2019, para 4,9%. Pressupondo que, permanecendo na União Europeia, o Reino Unido teria mantido a sua importância na estrutura do comércio externo português, concluímos, então, por um impacto negativo de quase 20% nas exportações. Vale a pena recordar que o estudo promovido pela CIP em 2018 apontava para reduções potenciais das exportações para o Reino Unido entre 15% e 26%, consoante os cenários considerados.
O impacto nas importações ainda foi maior: são agora 1,1% do total, quando em 2019 eram 2,6%. As nossas economias estão, claramente, menos interligadas.
Mas vejamos os efeitos do Brexit na economia britânica:
Segundo um estudo da Bloomberg, o custo eleva-se a 100 mil milhões de libras por ano, com a economia 4% abaixo do que estaria num cenário sem Brexit, o investimento empresarial a crescer menos 19% do que a média do G7 e a escassez de trabalhadores a aumentar.
Apesar de reconhecer que estes cálculos não são fáceis nem precisos, a Bloomberg afirma que é evidente que o desempenho económico do Reino Unido começou a divergir do resto do G7 depois do referendo de 2016 e a divergência alargou-se desde então.
Na União Europeia, todos os países (à exceção da Espanha e da República Checa) superaram já os níveis de atividade económica anteriores à pandemia. Os Estados Unidos e o Canadá recuperaram de forma mais forte do que a Europa. O Reino Unido ainda está abaixo dos níveis pré-crise e, segundo o FMI, entre as grandes economias mundiais, será a única a contrair em 2023. Não será tudo, certamente, culpa exclusiva do Brexit, mas dá que pensar.
Na grande maioria dos novos acordos comerciais que concluiu com países terceiros, o Reino Unido não conseguiu vantagens adicionais, limitando-se a reproduzir as condições que já existiam quando ainda fazia parte da União Europeia. A intensidade das trocas com o exterior caiu, com o Reino Unido a ficar para trás no comércio global.
Tudo isto nos deve fazer refletir na importância do mercado único e da salvaguarda do seu bom funcionamento. Tudo isto nos deve fazer refletir na importância de reinventarmos a globalização, protegendo-a de excessos e perversões, mas recusando o protecionismo. Num mundo mais fragmentado e mais perigoso, o Ocidente deveria estar mais unido para enfrentar as ameaças com que se defronta, em várias frentes.
Uma sondagem recente mostra que, sabendo o que sabem hoje, os britânicos teriam votado de forma diferente no referendo do Brexit. De facto, na campanha do referendo não houve um debate minimamente sério sobre as suas consequências económicas. A decisão da saída do Reino Unido da União Europeia foi, quase exclusivamente, fruto da emoção.
Tudo isto nos deve alertar para os custos de más decisões políticas, tomadas com base em ilusões e não no conhecimento e na razão.