por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 07.01.2023

Há exatamente um ano, afirmava, neste mesmo espaço, que a retoma do consumo e da procura externa nos permitiria encarar 2022 com algum otimismo, não fosse a escalada de custos de produção, além de graves problemas em abastecimentos indispensáveis à produção causados pela falta de matérias-primas e dificuldades nos transportes marítimos.

Sabemos bem como a realidade foi bem mais adversa do que o que então se esperava.

O impacto da guerra da Ucrânia tornou a escalada de custos e as perturbações na oferta muito mais graves do que era previsível, colocando as empresas sob uma tremenda ameaça.

A inflação instalou-se, com pesadas consequências, tomando características mais estruturais e mais difíceis de dominar. Os seus efeitos recessivos tornaram-se bem visíveis, pela erosão que causam no poder de compra dos consumidores, afetando também, de forma bem direta, as margens das empresas, uma vez que os aumentos dos custos não foram repercutidos plenamente nos preços.

Seguiram-se os aumentos das taxas de juro, tornados inevitáveis na sequência do compromisso do Banco Central Europeu de fazer “o que for necessário” para trazer a inflação de volta à meta dos 2%.
Apesar de tudo, a economia está a aguentar melhor do que toda esta conjuntura faria esperar.

É certo que a atividade económica travou bruscamente no segundo trimestre, mas os resultados do terceiro trimestre foram um pouco melhores do que as expectativas e as mais recentes projeções do Banco de Portugal apontam para que, no quarto trimestre, o crescimento em cadeia se mantenha, pelo menos, na mesma magnitude.

O crescimento, no cômputo de 2022, será, segundo tudo indica, superior às projeções feitas no final de 2021, antes do início da guerra.

Apesar da erosão dos rendimentos das famílias causada pelo aumento dos preços, o consumo aguentou melhor do que o expectável. O reverso da medalha é, contudo, uma taxa de poupança em queda acentuada.

Sobretudo, mais uma vez, a resiliência das empresas surpreendeu.

Destaco aqui o desempenho do setor exportador, com particular realce para o turismo: na primeira metade do ano, o peso das exportações no PIB superou, pela primeira vez, os 50% – meta que, nos objetivos do PRR, estava prevista ser alcançada apenas em 2027. No ano que agora termina, quase dois terços do crescimento do PIB terão vindo do contributo das exportações de bens e serviços, líquidas da sua componente importada. Por outras palavras, vieram do acréscimo do valor acrescentado nacional gerado pelas exportações.

Não é demais, por isso, reconhecer o valor das empresas, e em especial das empresas exportadoras, que, mais uma vez, assumem um papel fundamental num momento particularmente difícil da economia portuguesa.