Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 07.01.2017

“No início de um ano que será marcado por elevados riscos e incertezas no plano internacional, a internacionalização é um tema que ganha uma renovada relevância.

A reduzida dimensão do mercado nacional faz com que o caminho do crescimento tenha sempre que passar por uma maior e melhor afirmação nos mercados internacionais.

É certo que as exportações têm registado um bom desempenho, realçando-se o aumento do seu peso no PIB, nos últimos 10 anos, de 30% para 40%. Mas estamos ainda muito aquém dos rácios das economias europeias de dimensão equivalente à nossa.

Assim, maiores riscos e incertezas não devem desencorajar a internacionalização. Pelo contrário, tornam mais evidente a necessidade de um esforço conjunto das instituições públicas, das empresas e das suas estruturas associativas em torno de uma estratégia coerente, nas suas diversas vertentes: o aumento da capacidade de oferta, a capacitação de mais empresas para a internacionalização, o alargamento das cadeias de valor, a diferenciação dos bens e serviços exportados e a diversificação dos mercados.

Por outro lado, a dimensão da nossa economia torna possível que pequenos aumentos de quota de mercado à escala mundial se traduzam por acréscimos significativos dos volumes exportados pelas empresas portuguesas e sustentem o crescimento económico.

Para isso, as empresas precisarão de investir para enfrentarem a concorrência nos mercados externos e adquirirem capacidade de produção que lhes permita satisfazer a procura existente.

Para além de uma política económica transversalmente mais favorável à competitividade e ao investimento, as áreas de atuação que considero mais importantes são a qualificação de recursos humanos, a disponibilização de informação sobre os mercados, as ações de promoção externa e de prospeção de oportunidades e o apoio e aconselhamento nos mercados externos.

Importa também estimular a participação das empresas portuguesas nas cadeias de valor globais, bem como a cooperação empresarial, tendo em vista economias de escala, complementaridades e a importância das grandes empresas arrastarem consigo as de menor dimensão nos seus projetos de internacionalização.

Dado que a política pública para a internacionalização implica a conjugação de, fundamentalmente, duas áreas governativas – a Economia e os Negócios Estrangeiros – a necessidade de coerência e coordenação entre ambas revela-se essencial para a sua eficácia.

É necessário, ainda, promover a separação do papel de facilitador e de coordenação que compete às entidades públicas, em estreita articulação com a rede da diplomacia portuguesa, do que cabe às empresas e às associações que as representam e que desenvolvem as ações conducentes à sua internacionalização.

Neste contexto, urge definir uma política pública de apoio à internacionalização, devidamente articulada com os planos estratégicos de internacionalização desenhados por associações e clusters empresariais.”