por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 28.11.2020

Dentro de um mês, Portugal assumirá a Presidência do Conselho da União Europeia. Será um exercício particularmente difícil. Seria sempre exigente, dada a presente situação sanitária, económica e social. Já se sabia que seria uma Presidência intensa ao nível de dossiers legislativos, dado que houve atrasos em várias áreas devido à pandemia e porque o programa de trabalho da Comissão Europeia para 2021 conta com novas e importantes propostas legislativas.

As dificuldades poderão, contudo, ser ainda maiores, quando se mantêm em aberto duas questões cruciais para o futuro dos europeus.

Se o acordo com o Reino Unido não for alcançado na última hora, o primeiro dia da Presidência poderá ser, também, o dia em que se concretizará o pior cenário, que sempre foi tido por inaceitável, mas nunca deixou de pairar sobre as empresas de um e do outro lado do canal da Mancha.

Mantem-se também em aberto a conclusão do acordo sobre orçamento plurianual e o Plano de Recuperação para a Europa. Após o entendimento entre a Presidência alemã e o Parlamento Europeu, o bloqueio agora imposto pela Hungria e a Polónia não será facilmente desmontado, podendo exigir de Portugal um papel central na sensível, mas indispensável conciliação de posições em torno da questão do respeito pelo Estado de direito.

Assumindo o sucesso na formalização do acordo, seguir-se-á o complexo trabalho da sua implementação e da aprovação dos planos nacionais.

No dia em que escrevo estas linhas, tive a honra de ser o anfitrião (embora, infelizmente, de forma não presencial) do Conselho de Presidentes da BusinessEurope. Nesta reunião, os líderes das 40 confederações de empregadores de toda a Europa puderam abordar com o Governo português as prioridades da Presidência e os desafios com que se defronta.

A primeira mensagem transmitida pelos representantes de cerca de 20 milhões de empresas europeias foi a de que não é hora de jogos políticos – é hora de cumprir o compromisso encontrado e garantir o acordo para que os fundos europeus possam ser canalizados para a economia real, sem mais atrasos.

As prioridades gerais da Presidência portuguesa foram acolhidas consensualmente – todos queremos uma União Europeia resiliente, social, digital, verde e global. A questão está em como consegui-lo. A mensagem foi clara: para alcançar estes objetivos, são necessárias empresas competitivas.

Por toda a Europa, as empresas estão a fazer tudo o que podem para sobreviver e salvar empregos, durante esta crise sem precedentes. Somente com empresas robustas seremos capazes de alcançar uma recuperação sustentável e inclusiva. Para tal, são necessários apoios financeiros e não-financeiros.

Foi dito, também, que a recuperação não pode ser prejudicada pela imposição de novos custos e obrigações sobre as empresas.

A este propósito, não resisto, também eu, a citar uma frase de Churchill, mais atual do que nunca:

“Alguns veem a empresa privada como se fosse um tigre predador a ser morto. Outros consideram-na uma vaca que podem ordenhar. Apenas poucos a veem como o que realmente é – o cavalo forte que puxa toda a carroça”.