por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 06.04.2024

A inteligente gestão do silêncio, iniciada logo a partir da eleição, a 10 de março, permitiu ao primeiro-ministro gerir com êxito a escolha dos seus ministros e secretários de Estado. Não houve especulação nem ruído de fundo, o que permite à nova equipa governamental iniciar funções com um importante capital político do seu lado. Começo por aqui porque esta tranquilidade e naturalidade na gestão deste momento de capital importância não é infelizmente uma prática habitual no nosso país, o que acaba invariavelmente por dificultar ainda mais o início de funções dos novos executivos. Desta vez, isso não aconteceu, o que é uma boa notícia até pelo contraste com a tensão que define o atual ambiente político-partidário nacional.

A uma equipa de ministros com músculo político e competência técnica, Luís Montenegro juntou um grupo de secretários de Estado com ampla experiência profissional no setor privado e também na máquina pública. Na Economia, área fundamental para o nosso desenvolvimento, o ministro Pedro Reis apontou João Rui Ferreira para a Secretaria de Estado da Economia. O facto de João Ferreira ter sido presidente da APCOR, a associação da cortiça, entre 2012 e 2021, significa que conhece bem o movimento associativo e, claro, a vida empresarial. São boas características – à partida, oferecem um capital de conhecimento e uma larga experiência que podem ajudar a definir boas políticas públicas para esta área nevrálgica.

A passagem de Pedro Reis pela AICEP também abre boas expectativas ao país. Precisamos de continuar a aumentar o peso das exportações no PIB e, acima de tudo, temos de internacionalizar mais a nossa economia. Não basta vender para fora em contentores, embora isso seja muito importante; também não é suficiente fortalecermos mais o turismo nacional e robustecermos os serviços – estou convencido de que nos falta dar um passo essencial: a internacionalização das nossas empresas. Temos de estar mais presentes nos mercados externos, as nossas companhias têm de estar bem ancoradas nos mercados com mais massa crítica, têm de estar lá e ter visibilidade. Já temos alguns bons exemplos, sim, mas precisamos de muitos mais. Este é realmente o único caminho para darmos escala às nossas ambições individuais e coletivas e, assim, reduzirmos a nossa vulnerabilidade económica.

Os governos fazem-se de programas, ideias e pessoas. Estas três condições estão agora reunidas. Os governos fazem-se também de negociação, abertura e determinação – características que, no entanto, têm forçosamente de ser partilhadas também pelas oposições. Todos os portugueses estão a par das dificuldades que resultam dos instáveis equilíbrios partidários do atual Parlamento, mas estou absolutamente certo de que ninguém quer viver em campanha eleitoral permanente, até pelos elevados custos que esse ruído e essa paralisia têm. A política não pode converter-se apenas numa disputa permanente e sem quartel pelo poder. A política é, antes de mais, um serviço prestado a bem da nação. Ora bem, este desígnio tem de ser procurado e defendido, não pode ser esquecido e desvalorizado. Não pode. É o nosso presente e o nosso futuro que estão em jogo.