por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 20.03.2021

Vão surgindo dados estatísticos, relativos ao início deste ano, que mostram que a recuperação não só foi interrompida como deu lugar a uma nítida degradação da atividade económica. Esta tendência é clara, por exemplo, na contração mais profunda do volume de negócios, nos setores diretamente afetados pelo regresso ao confinamento, mas também na Indústria.

As exportações de mercadorias, que chegaram, em setembro, a alcançar um valor semelhante ao do mesmo mês de 2019, voltaram a cair, fazendo afundar a produção dos setores industriais mais dependentes dos mercados externos.

A mais recente Síntese Económica de Conjuntura do INE não deixa margem para dúvidas: “em Portugal, a informação disponível para janeiro e fevereiro, num contexto de novas medidas restritivas de resposta à pandemia, revela uma redução expressiva da atividade económica”.

No mercado de trabalho, a forte resistência das empresas em prol da preservação do emprego parece estar agora a ceder. Depois de, entre junho e novembro, terem sido recuperados 148 mil dos 202 mil postos de trabalho perdidos de fevereiro a maio, o emprego voltou a cair, em dezembro e janeiro, com uma redução de mais de 116 mil postos de trabalho.

A face invisível da crise, que estava escondida pela resiliência das empresas e, também, é certo, pelos apoios de emergência que foram sendo concedidos, está a começar a aparecer, aos poucos, à medida que as empresas vão esgotando as suas reservas, a sua capacidade de resistir.

Na falta de outras, de caráter mais estrutural, medidas de emergência, como o lay off simplificado e seus sucedâneos, moratórias, linhas de crédito com garantia pública, adiamento de impostos, foram, e continuam a ser, fundamentais para que as empresas possam aguentar, um pouco mais.

O Governo vai gerindo a situação, dia-a-dia, apresentando e reapresentando medidas e apoios, melhorando, aqui e ali, as suas respostas, mas sempre aquém do que seria necessário, sempre aquém do que vai sendo feito na generalidade dos países europeus.

Não se vislumbra, no entanto, uma resposta mais estrutural e mais robusta, à altura do desafio. Uma resposta que passa, não me canso de insistir, por medidas – há muito reclamadas, há muito prometidas – que favoreçam o reforço dos capitais permanentes das empresas.

Não basta assegurar a gestão corrente da crise, esperando que a pandemia passe, que as empresas aguentem, e que ressurja, de novo, uma dinâmica de recuperação.

É preciso mais e melhor, para que, no rescaldo desta crise, as empresas não só tenham resistido, mas estejam em condições para impulsionar a recuperação, para investir, para competir com as suas congéneres europeias, que têm beneficiado de níveis substancialmente diferentes de apoio à respetivas economias.