por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 15.06.2024

Na Europa damos por garantido quase tudo, a começar pelas democracias e pelas eleições livres e transparentes, sem esquecer a própria União Europeia e a formidável rede de proteção social que nos singulariza pelo mundo fora. Na verdade, damos por certo o nosso futuro coletivo tal como ele é hoje, apesar de já termos passado há muito a fase dos sinais de alarme que expõem as nossas fragilidades económicas.

Hoje, a concorrência que surge da Ásia e dos Estados Unidos já aqui está, desalojou-nos dos mercados que nós, europeus, julgávamos coutada exclusiva. Em abril, o Conselho Europeu acordou, finalmente, de anos e anos de sonambulismo ao reconhecer aquilo que todos os empresários já haviam identificado há muito: a Europa precisa de tornar-se mais competitiva, não pode amarrar-se a regras e burocracias insensatas e excessivas, apesar de por vezes bem intencionadas, que acabam por impedir ou atrasar a criação de riqueza e bem-estar – falhando os objetivos imaginados. Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas Bruxelas teima em querer impor às pessoas e às empresas mudanças tectónicas instantâneas.

Por falar em Roma, fala-se muito da queda do império romano para estabelecer uma comparação com os Estados Unidos, que teriam, segundo estas teses muito difundidas, entrado na fase descendente da sua afirmação global. Talvez seja verdade, até pela forte concorrência da China; mas cometemos de novo um erro de análise rudimentar: olhamos para o outro lado do Atlântico e não para o que está a acontecer aqui e agora na UE.

A Europa está velha e isso salta à vista de quem viaja por África ou pela Ásia. É uma constatação visual – vê-se nas ruas -, que encontra respaldo nos dados demográficos e na perceção cultural que cada um destes continentes transmite ao mundo. A Europa é uma espécie de senhora aristocrática que ainda não se deu conta, ou prefere ignorar, a real situação em que se encontra e o mundo em que vive. Na verdade, penso que até estamos mais velhos nas ideias do que nos cabelos, que podem sempre ser pintados. O problema do nosso envelhecimento não é apenas o inverno demográfico da população – que temos de enfrentar, não apenas constatar. A nossa maior dificuldade está nas ideias ultrapassadas e nos objetivos anacrónicos que nos fazem perder tempo, gastar recursos e desperdiçar muitas oportunidades.

Portugal está de certa forma pior do que a média da União Europeia. Custa-me afirmá-lo, mas os factos são estes pela simples razão de que somos mais pobres. Se a Europa está a replicar em várias aspetos a decadência do império romano – defendendo políticas e ideias bizarras fruto de uma paradoxal crise de abundância -, o nosso país, que nunca foi rico, ano após ano escolhe um caminho desprovido da ousadia e da energia que impulsionam os países asiáticos e africanos. Globalização não é só importar produtos baratos – globalização significa ter a concorrência à porta de casa e até dentro de casa. Significa não estar parado à espera que o Estado faça e se intrometa em tudo como se fosse possível servir o crescimento económico de bandeja. Obviamente, não é.