por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 05.06.2021
Os dados divulgados esta semana pelo INE confirmaram o impacto negativo do segundo confinamento, patente na queda do PIB no primeiro trimestre, mas revelaram também alguns desenvolvimentos positivos.
Um deles é o da recuperação das exportações de mercadorias, a que já me referi neste espaço. Outro é o facto de o investimento ter resistido bem à crise e ter consolidado a sua recuperação, mesmo no quadro adverso que vivemos no primeiro trimestre do ano.
De facto, o investimento ultrapassou já o nível anterior a esta crise – embora sempre aquém dos níveis observados entre finais do século XX e 2008, que nunca chegaram a ser alcançados novamente.
Embora não haja dados desagregados que nos mostrem o comportamento do investimento privado e público, o facto da componente “máquinas e equipamento” ter aumentado a um ritmo elevado (12,2%) faz-nos crer que o investimento empresarial terá contribuído positivamente para esta evolução.
É certo que ainda é cedo para declarar ganha esta “guerra” do investimento.
O último inquérito levado a cabo pela CIP, através da sua estrutura associativa e em parceria com o ISCTE, revelou que, apesar de cerca de metade das empresas inquiridas ter a expectativa de manter em 2021 o mesmo nível de investimento de 2019, são ainda mais as que pensam diminuir o investimento em 2021 em relação a 2019 (29%) do que aquelas que pensam investir mais (22%). Além disso, as empresas que têm a expectativa de diminuir o investimento, estimam reduzi-lo, em média, em 58%, enquanto as que esperam conseguir aumentar o investimento estimam aumentá-lo em 34%. Daqui resultaria uma queda do investimento empresarial em 2021 face a 2019.
No entanto, os resultados do primeiro trimestre, como os do inquérito da CIP, mostram que muitas empresas mantêm uma postura proativa e querem investir, o que contrasta com a visão de alguns, que afirmam que não se pode pedir ao setor privado que invista mais, numa conjuntura negativa.
As empresas investirão se forem criadas condições propícias a esse investimento.
Além disso, a recuperação só poderá impulsionar duradouramente o crescimento económico se, após um primeiro impulso vindo do consumo interno e do turismo, libertos das restrições a que estão sujeitos, for sustentada pelo investimento, nomeadamente pelo investimento empresarial.
Caso contrário, estaremos condenados a um cenário como o que nos foi apresentado no Programa e Estabilidade, em que o Governo parece conformar-se com um desvanecimento do efeito recuperação que levaria a nossa economia, em “velocidade de cruzeiro”, a taxas de crescimento de pouco mais de 2% ao ano.
Além disso, o investimento é condição indispensável para que as empresas possam vencer os desafios colocados pela dupla transição climática e digital e, de uma forma geral, pelos desafios do progresso tecnológico.
Continuo, pois, a insistir que é preciso mais e melhor, para que, no rescaldo desta crise, as empresas não só tenham resistido, mas estejam em condições para investir, impulsionando a recuperação e garantindo a sua competitividade num mundo em mudança acelerada.