por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 01.06.2024

Os horários de trabalho são desde sempre um ponto sensível nas negociações entre os sindicatos e os empresários ou, em escala mais pequena, entre as empresas e os trabalhadores. Acontece que parte deste choque não é, na minha opinião, totalmente real. Ou melhor, não corresponde à verdade que os empresários, a esmagadora maioria deles, tenha como objetivo estender ao máximo os horários de trabalho como forma de aumentar os lucros. Essa relação entre uma coisa e outra é uma absoluta fantasia na maior parte dos setores de atividade. Mais tempo não significa necessariamente mais produtividade – pelo contrário, os estudos demonstram uma e outra vez que o resultado será provavelmente o inverso.

Recentemente, estive com um empresário do setor primário, área muitas vezes acusada de ter práticas laborais ultrapassadas e prejudiciais para o trabalhador. O que ele constatou sem dificuldade foi que mais importante do que o número de horas trabalhada é a forma como o tempo é efetivamente empregue. Dito de outra maneira: os incentivos financeiros para que as pessoas produzam mais e melhor ao longo de uma hora, evitando até as horas extraordinárias, o que lhes poderia ser economicamente prejudicial mas acaba por não ser, é muito mais relevante do que estender as horas na vã esperança de com isso obter bons resultados.

Claro, há exceções. Há abusos. Há quem ainda cultive abordagens anacrónicas nas relações laborais. Acontece que a competição pelo talento nas mais diversas áreas, até as mais simples, a que se junta um mercado de trabalho muito competitivo – é cada vez mais difícil encontrar mão-de-obra – tudo isso tem ajudado a reduzir estas más práticas. A concorrência ajuda porque promove a qualidade.

Estamos hoje todos cada vez mais conscientes de que há regras e que elas devem ser cumpridas em benefício próprio, e também porque viver em comunidade significa encontrarmos este espaço seguro de convivência e respeito mútuos. Eu compreendo que este problema exija a atenção dos sindicatos. Compete-me, no entanto, sublinhar que não pode passar a ideia de que os empresários são figuras malvadas cuja missão é explorar os outros. Não relativizo os problemas que subsistem, além dos novos desafios que naturalmente surgem com a evolução constante do mercado de trabalho. Há desafios e melhorias a fazer, sim, mas que isto não sirva como mais uma maneira para caricaturar os empresários da pior forma possível. Não me parece justo e sequer útil.

Empresários e trabalhadores não estão alinhados em todos os assuntos. Não têm os mesmos deveres e responsabilidades. Mas partilham muito mais do que muita gente pensa ou quer fazer-nos querer – o país, é o nosso país, tem objetivos comuns e tem um desígnio que partilhamos: puxar Portugal para cima. Este é simultaneamente o nosso ponto de encontro e o nosso incentivo para avançarmos juntos. Sim, haverá sempre algum preconceito e atrito, faz parte da vida em comunidade, mas afastemos de vez os estereótipos que só dividem. Temos todos a ganhar com essa abertura. Seria um grande avanço.