por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 18.05.2024

Foram 50 anos mais uns meses à espera de uma decisão final, definitiva e irrevogável – assim esperamos todos – sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa. Quem viaja de avião enfrenta hoje dificuldades muito difíceis de aceitar. O terminal 2 é uma terra de ninguém, é um espaço literalmente sitiado nas horas de maior tráfego que transmite uma péssima imagem do país – que os turistas registam todos os dias com fotos que dispensam legenda -, e que horrorizam os portugueses que por lá passam. O terminal 1 é um pouco melhor, mas está muito longe do serviço prestado em quase todos os aeroportos europeus.

A decisão de avançar para um novo aeroporto em Alcochete é, por isso, muito bem-vinda. Se olharmos apenas para as perdas do país contabilizadas desde julho de 2022 o valor ultrapassa os dois mil milhões de euros. Turistas que não chegaram, aviões que não puderam aterrar, viagens de negócios que ficaram por concretizar. Até 2027, estima-se em 6,8 mil milhões de euros a riqueza que seria gerada se já houvesse um novo aeroporto de Lisboa em pleno funcionamento. A somar a esta perda, juntam-se 27,7 mil empregos que seriam criados todos os anos – perdidos definitivamente, portanto.

A CIP nunca se conformou com os sucessivos adiamentos. Fizemos mais do que isso, desencadeámos o estudo que abriu caminho à escolha de Alcochete – um serviço público que assumimos com determinação e que faz parte da nossa razão de ser. Defender o desenvolvimento do país, fortalecer o envolvimento da designada Sociedade Civil através de estudos, debates e propostas fundamentadas – como o Pacto Social -, capazes de romper com as ideias feitas e as velhas políticas públicas que nos amarram a um presente difícil e a um futuro com mais dificuldades do que certezas auspiciosas para todos.

O aeroporto Luís de Camões ainda vai demorar uma década a construir. Mas é uma decisão carregada de simbolismo se for mais do que um ato isolado. A redução drástica dos impostos sobre o trabalho, o alinhamento de Portugal com os países europeus nos impostos sobre as empresas, a redução massiva da burocracia, a melhoria gradual dos serviços públicos e o incentivo a quem cria empregos e riqueza, além da pacificação do ambiente tumultuoso que marca hoje a função pública, tudo isso puxa para o lado certo: aumenta a confiança das pessoas na debilitada causa pública e nas capacidades do país.

Passámos anos muitíssimo difíceis, talvez esteja realmente a começar um novo ciclo – uma fase não desprovida de tensões e problemas, que fazem parte da natureza da vida, mas um período ancorado no conforto de que há objetivos e projetos comuns que são maiores do que cada um de nós, que resultam da soma de todos e que formam um verdadeiro desígnio nacional.