por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 16.03.2024

Estarão alguns partidos saudosistas da geringonça – honra lhe seja feita, não é o caso do PS – a pretender evoluir para uma traquitana, uma caranguejola ou uma engenhoca? Ou será apenas uma artimanha que, com astúcia dolosa e por soez artifício, pretende criar um esquema que faria corar o maior dos sofistas? Todos nos recordamos deste grupo de pensadores da Grécia Antiga que, através de argumentos capciosos ou falácias, sistematizaram a habilidade retórica com o objetivo de defender argumentos enganosos ou inconsistentes do ponto de vista lógico. Naturalmente, não podemos confundir os sofismas com os paralogismos porque, entre outras razões, só devemos ser condescendentes com a ignorância não com o que procede da má fé. Seja como for, o truque não funciona.

Vejamos. Tivemos duas semanas de campanha eleitoral e mais de um mês inteiro de debates. A informação circulou, foi discutida no país inteiro e a abstenção caiu para o nível de 1995. O país esteve à altura das circunstâncias, o envolvimento dos eleitores aconteceu – as pessoas votaram. Chegou, portanto, o momento de os partidos fazerem a sua parte e serem adultos. Haverá sempre quezília partidária, faz parte da natureza do sistema democrático, mas já não me parece normal que os partidos se comportem como se houvesse novas legislativas já no próximo domingo. Se é verdade que a AD ganhou por pouco, a esquerda perdeu por muito – menos 42 deputados -, o que tem consequências óbvias.

Então, como compreender que escassos dias após os portugueses se terem pronunciado de forma soberana, um partido (o PCP) manifeste a intenção de apresentar uma moção de rejeição quando o novo executivo ainda não foi formalmente indigitado, quando ainda não há programa de governo ou sequer equipa governativa? Como compreender que os partidos da esquerda mais radical se apressem a propor soluções que ignoram que a direita elegeu quase 60% dos deputados que compõem o novo hemiciclo? Bem sei que falta contabilizar os votos dos emigrantes, mas a obrigação de esperarmos por estes resultados deveria levar estes partidos a não cavar mais trincheiras.

Felizmente, a bem de Portugal, alguns partidos mostraram que há dirigentes com noção das responsabilidades. O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, e um dos seus mais destacados membros (Álvaro Beleza) reiteraram esta semana que “o PS não provocará uma crise”, que “este é o tempo dos adultos”, que “não podem existir eleições de seis em seis meses” e ainda que “o tempo do recreio acabou”.
Não há qualquer dúvida que o tempo dos moderados é agora. Mais do que nunca, Portugal precisa que se façam ouvir as forças políticas moderadas, responsáveis e patriotas, já que são elas que melhor devem saber separar o seu interesse partidário daquilo que é o interesse nacional. À participação massiva dos eleitores nestas legislativas os partidos devem retribuir com impecável sentido democrático. Já gastámos quase cinco meses a debater, agora é tempo de fazer. A economia não espera, os nossos concorrentes avançam, as pessoas precisam de respostas imediatas aos seus problemas. Portugal exige um rumo. A alternância partidária está na génese dos sistemas democráticos – avancemos, portanto.